29 setembro 2014

O amor que desafia o tempo

Encontrei, no prédio em que moro, uma senhora sorridente que me disse: "Faça o favor de me dar os parabéns! Completo, hoje, 70 anos". Eu, imediatamente, cumprimentei-a, dizendo que a vida é um dom de Deus. Ela completou: "A vida e o amor, pois faço, hoje, 70 anos de casada!". Quando saímos do elevador, seu marido a esperava. Conversamos um pouco. Falaram de tristes momentos da família. De entes queridos que partiram. Das dores da separação. De algum estranhamento. E, de "mãos dadas", eles se foram. De "mãos dadas", esse é o segredo para o amor que desafia o tempo.
O amor não exige perfeição, exige apenas o caminhar de "mãos dadas". No início, no acender da paixão, há o medo do novo, da mudança necessária. Com o tempo, a surpresa se vai,  mas um e outro, inspirados pelo romantismo, aquecem o tempo, surpreendendo. Dizeres de amor nunca fazem mal e mantêm as chamas acesas. Estavam indo à missa, agradecer a Deus por terem se conhecido. E por terem permanecido assim: de "mãos dadas". Depois, as outras celebrações com tantos que frequentam a sagrada convivência. Filhos crescidos acompanhados de seus filhos que, também, já têm os seus. Inspiradores de outras famílias que descendem dessa escolha de vida. Todos no mesmo vagão. Alguns há mais tempo, e outros que vêm chegando. Com o respeito de quem tem um modelo com que aprender. "Que Deus abençoe minha família, tão grande, tão bonita!", despediu-se de mim o marido apaixonado há 70 anos.
Permanecer é desafiador. Quantos casais desistem diante da primeira dificuldade! Quantos optam por destruir os enlaces em busca de aventura! Justificam-se pelo prazer. O melhor prazer está no surpreender o amor. O amor que dá significado à vida. O que vale a vitória quando, ao vencedor, falta a cumplicidade do abraço amado? Quando o prêmio carece de alguém para dividir? Há muitas formas de amor. O desperdício é viver sem amar.

Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 26/09/2014

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