31 dezembro 2015

Feliz Ano Novo!!!!!

Quando 2015 começou, ele era todo seu.
Foi colocado em suas mãos...
Você podia fazer dele o que quisesse..
Era como um Livro em Branco, e nele você podia colocar:
um poema, um pesadelo, uma blasfêmia, uma oração.
Podia...
Hoje não pode mais; já não é seu.
É um livro já escrito... Concluído.
Como um livro que tivesse sido escrito por você,
ele um dia lhe será lido, com todos os detalhes,
e você não poderá corrigi-lo.
Estará fora de seu alcance.
Portanto, antes que 2015 termine, reflita,
tome seu velho livro e o folheie com cuidado.
Deixe passar cada uma das páginas pelas mãos
e pela consciência; faça o exercício de ler a você mesmo.
Leia tudo...
Aprecie aquelas páginas de sua vida em que você usou
seu melhor estilo.
Leia também as páginas que gostaria de nunca ter escrito.
Não, não tente arrancá-las.
Seria inútil. Já estão escritas.
Mas você pode lê-las enquanto escreve o novo livro
que lhe será entregue.
Assim, poderá repetir as boas coisas que escreveu,
e evitar repetir as ruins.
Para escrever o seu novo livro, você contará novamente
com o instrumento do livre arbítrio, e terá, para preencher,
toda a imensa superfície do seu mundo.
Se tiver vontade de beijar seu velho livro, beije-o.
Se tiver vontade de chorar, chore sobre ele...
Não importa como esteja...
Ainda que tenha páginas negras, entregue
e diga apenas duas palavras:
Obrigado e Perdão!!!
E, quando 2016 chegar, lhe será entregue outro livro,
novo, limpo, branco todo seu,
no qual você irá escrever o que desejar...
BOAS FESTAS E
FELIZ LIVRO NOVO !!!

(Autor Desconhecido) 



Deus abençoe a todos grandemente. Obrigado pela visita e espero fazer muito mais e melhor em 2016! Abraço! Bia Oliveira 

29 dezembro 2015

"A pipa e a flor", uma encantada história de Rubem Alves



Era uma vez uma pipa.
O menino que a fez estava alegre e imaginou que a pipa também estaria. Por isso fez nela uma cara risonha, colando tiras de papel de seda vermelho: dois olhos, um nariz, uma boca...
Ô pipa boa: levinha, travessa, subia alto...
Gostava de brincar com o perigo, vivia zombando dos fios e dos galhos das árvores.
- “Vocês não me pegam, vocês não me pegam...”
E enquanto ria sacudia o rabo em desafio.
Chegou até a rasgar o papel, num galho que foi mais rápido, mas o menino consertou, colando um remendo da mesma cor.
Mas aconteceu que num dia, ela estava começando a subir, correndo de um lado para o outro no vento, olhou para baixo e viu, lá num quintal, uma flor. Ela já havia visto muitas flores. Só que desta vez os seus olhos e os olhos da flor se encontraram, e ela sentiu uma coisa estranha. Não, não era a beleza da flor. Já vira outras, mais belas. Eram os olhos...
Quem não entende pensa que todos os olhos são parecidos, só diferentes na cor. Mas não é assim. Há olhos que agradam, acariciam a gente como se fossem mãos. Outros dão medo, ameaçam, acusam, quando a gente se percebe encarados por eles, dá um arrepio ruim elo corpo. Tem também os olhos que colam, hipnotizam, enfeitiçam...
Ah! Você não sabe o que é enfeitiçar?!
Enfeitiçar é virar a gente pelo avesso: as coisas boas ficam escondidas, não têm permissão para aparecer; e as coisas ruins começam a sair. Todo mundo é uma mistura de coisas boas e ruins; às vezes a gente está sorrindo, às vezes a gente está de cara feia. Mas o enfeitiçado fica sendo uma coisa só...
Pois é, o enfeitiçado não pode mais fazer o que ele quer, fica esquecido de quem ele era...
A pipa ficou enfeitiçada. Não mais queria ser pipa. Só queria ser uma coisa: fazer o que a florzinha quisesse. Ah! Ela era tão maravilhosa! Que felicidade se pudesse ficar de mãos dadas com ela, pelo resto dos seus dias...
E assim, resolver mudar de dono. Aproveitando-se de um vento forte, deu um puxão repentino na linha, ela arrebentou e a pipa foi cair, devagarzinho, ao lado da flor.
E deu a sua linha para ela segurar. Ela segurou forte.
Agora, sua linha nas mãos da flor, a pipa pensou que voar seria muito mais gostoso. Lá de cima conversaria com ela, e ao voltar lhe contaria estórias para que ela dormisse. E ela pediu:
- “Florzinha, me solta...” E a florzinha soltou.
A pipa subiu bem alto e seu coração bateu feliz. Quando se está lá no alto é bom saber que há alguém esperando, lá embaixo.
Mas a flor, aqui de baixo, percebeu que estava ficando triste. Não, não é que estivesse triste. Estava ficando com raiva. Que injustiça que a pipa pudesse voar tão alto, e ela tivesse de ficar plantada no não. E teve inveja da pipa.
Tinha raiva ao ver a felicidade da pipa, longe dela... Tinha raiva quando via as pipas lá em cima, tagarelando entre si. E ela flor, sozinha, deixada de fora.
- “Se a pipa me amasse de verdade não poderia estar feliz lá em cima, longe de mim. Ficaria o tempo todo aqui comigo...”
E à inveja juntou-se o ciúme.
Inveja é ficar infeliz vendo as coisas bonitas e boas que os outros têm, e nós não. Ciúme é a dor que dá quando a gente imagina a felicidade do outro, sem que a gente esteja com ele.
E a flor começou a ficar malvada. Ficava emburrada quando a pipa chegava. Exigia explicações de tudo. E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isto faria a flor sofrer.
E a flor aos poucos foi encurtando a linha. A pipa não podia mais voar.
Via ali do baixinho, de sobre o quintal (esta essa toda a distância que a flor lhe permitia voar) as pipas lá em cima... E sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava tanto da flor, como no início...
Essa história não terminou. Está acontecendo bem agora, em algum lugar... E há três jeitos de escrever o seu fim. Você é que vai escolher.
Primeiro: A pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar.
- “Não vou te incomodar com os meus risos, Flor, mas também não vou te dar a alegria do meu sorriso”.
E assim ficou amarrada junto à flor, mas mais longe dela do que nunca, porque o seu coração estava em sonhos de vôos e nos risos de outros tempos.
Segundo: A flor, na verdade, era uma borboleta que uma bruxa má havia enfeitiçado e condenado a ficar fincada no chão. O feitiço só se quebraria no dia em que ela fosse capaz de dizer não à sua inveja e ao seu ciúme, e se sentisse feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, vendo a pipa voar, ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade da pipa. Quando isso aconteceu, o feitiço se quebrou, e ela voou, agora como borboleta, para o alto, e os dois, pipa e borboleta, puderam brincar juntos...
Terceiro: a pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarravam. E assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor, arrebentou a linha, e foi em busca de uma outra mão que ficasse feliz vendo-a voar nas alturas.
Rubem Alves
Via: http://www.raizesjornalismocultural.com/

26 dezembro 2015

Feliz Natal

O Natal não é  apenas, no dia 25 de Dezembro. Na liturgia da Igreja Católica. O natal é comemorado durante oito dias.A  partir do dia 26 de Dezembro, se encerrando no dia da  epifania do Senhor, vivemos a oitava de natal. Tamanha importância tem o natal, que não se pode, ser celebrado em apenas um dia. Sendo assim, desejo a todos um   FELIZ NATAL! obrigado por visitar o blog #ENTREPAGINASEMUITASHISTORIAS.  Ao ler esta mensagem do Gabriel Chalita. (abaixo)Me faz pensar, que Jesus, e sua mensagem de amor ainda precisa nascer no coração de muitas pessoas. E essa mensagem de amor e fé depende dos que amam e acreditam N'ele, para ser propagada. Lembrou-me  também um linda frase atribuída a São Francisco de Assim: "EVANGELIZE SEMPRE, SE NECESSÁRIO, USE PALAVRAS” O maior exemplo que Jesus nós deu foi sobre o amor,  aliás os dois primeiros mandamentos se referiam ao amor. Amar a Deus sobre todas as coisas. E amar o próximo como a si mesmo.Que os nossos atos de amor sejam bem mais que palavras, que sejam gestos. Que nossa maneira de evangelizar, não seja só com palavras, que sejam através de pequenos e contínuos, exemplos de alguém que ama a Deus através do próximo e de quem se aproximá de nós.   Sendo assim amemos uns aos outros, pois só através do amor. Poderemos fazer Jesus ser conhecido e amado. Para que saibamos amar e se deixar amar também.  Feliz Natal!!!! By Bia Oliveira



Feliz natal para todos os que sabem o significado desse dia.
Feliz natal para os que precisam aprender e para os que nunca terão tempo de pensar sobre isso.
Feliz natal para os que já tiveram uma experiência de amor com o Menino nascido para ensinar a amar.
Feliz natal para os que nunca abriram os olhos para essas imagens.
 Feliz natal para os que sabem o valor da solidariedade e se desdobraram para ajudar alguém a ser mais feliz como um presente ao aniversariante.
Feliz natal para os que desconhecem o prazer do cuidar, do partilhar o que se é e o que se tem com quem precisa.
Feliz natal para os que caminham de mãos dadas, para os que aceitam ir mais devagar quando o outro está machucado ou precisando de descanso.
Feliz natal para os que preferem ir sozinhos, competindo o tempo todo para mostrar que são velozes e vitoriosos e perfeitos.
Feliz natal para os que veem beleza nas imperfeições e que se descobrem crescendo a cada dia.
Feliz natal para os que não entendem dessas coisas e cobram de si e dos outros que só tenham certezas.
Feliz natal para aqueles que não escondem as lágrimas e os afetos e as demonstrações de amor.
Feliz natal para os que temem borrar a maquiagem ou demonstrar alguma fraqueza.
Feliz natal para os que se assumem fracos e carentes e necessitados dos outros.
Feliz natal para os que resistem a deitar em um colo de mãe e agradecer.
Feliz natal para todos os que entoam canções de gratidão e prosseguem, independentemente das dores e das despedidas.
Feliz natal para os que emudecem e tentam emudecer os outros com o seu grito de arrogância.
Feliz natal para os que creem em Deus e no ser humano e que fazem da vida um projeto de amor.
Feliz natal para aqueles que precisam isso descobrir, se formos capazes de os convencer.
Feliz natal.

Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 25/12/2015

22 dezembro 2015

Clarice Lispector (Especial)



No mês de Dezembro, os fãs de Clarice relembram, o nascimento, e também  se faz memória da morte,na escritora.Clarice Lispector. Clarice nasceu em: 10/12/1920. E faleceu em:  09/12/ 1977. Clarice era Ucraniana, naturalizada brasileira. Romancista, escritora, contista, cronista e jornalista. autora de romances, contos e ensaios. Enfim as obras de Clarice, passeia, por varias linguagens, literárias inclusive crônicas. 

Você já postou alguma frase de Clarice Lispector, das redes sociais? Você já leu algum livro da escritora?   O que  Clarice deixou escrito, é algo maravilhoso para ser resumido apenas como frases nas redes sociais. A função das redes sociais são divulgar, todos os  tipos de conteúdos. Inclusive, citações de escritores. Se você gostar de alguma citação,  vá mais além pesquise sobre o escritor (a). Sempre vale apena fazer novas descobertas. Foi assim  que descobri as obras de Clarice, após me  identificar, muito com algumas citações, comecei a ler os livros, e me apaixonei, completamente, por sua obra.  Que tal você começar a ler Clarice! Não sabe por onde começar? Vou mostrar algumas obras da escritora.  Três desta lista que compartilho com vocês são os meu favoritos. São eles:  A  hora da estrela, As palavras e Aprendendo a viver.  As poucos farei postagens, destacando, um a um. Espero que essa postagem, possa despertar em você o desejo de descobrir, o universo clariceano.  


Lucrécia Neves vive num subúrbio em crescimento, São Geraldo, na década de 1920. O desejo de ser rica e de sair dos limites da cidade a fazem apostar no casamento com Mateus, que a leva para morar na cidade grande. No entanto, a nostalgia do subúrbio a invade de tal forma que ela retorna a São Geraldo, agora tão diferente daquela em que vivera. Viúva, ela se vê diante da possibilidade de iniciar uma relação amorosa mais verdadeira com o doutor Lucas, fato que não se concretiza. A carta da mãe chamando-a para mudar-se para a fazenda dá-lhe uma nova chance de jogar-se numa aventura amorosa e na busca de si mesma.

A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante estão sempre acompanhados por convites constantes ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.



Publicados pela primeira vez em 1974, os 13 contos que compõem A via crucis do corpo, de Clarice Lispector, são precedidos por uma explicação da autora. Ela diz que as histórias foram feitas sob encomenda e que, contrariando sua vontade inicial, aceitou a tarefa por puro impulso. Tentou assiná-lo com o pseudônimo Cláudio Lemos, mas acabou sucumbindo ao argumento de que deveria ter liberdade para escrever o que quisesse. E foi o que fez, num único fim de semana. Mas registrou: "Se há indecências nas histórias a culpa não é minha."

A via crucis do corpo não tem nada de imoral; é, antes de tudo, uma fresta no cárcere social que mantém a mulher — condutora de todos os contos — supostamente distante de seus desejos e fantasias. Ou dos fardos, como a virgindade. O que Clarice fez foi apenas descrever, de forma leve e bem-humorada, algumas dessas benditas transgressões.

Mas como em toda a sua obra, a autora abre espaço para falar dos sentimentos mais profundos e das sinceras idiossincrasias da alma. Em "O homem que apareceu", ela se depara com Cláudio Brito, um grande poeta transformado em lixo humano, e relativiza o fracasso: "Mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira."

Na abertura de "Por enquanto", Clarice chega a ser cruel: "Como ele não tinha nada a fazer, foi fazer pipi. E depois ficou a zero mesmo." Ato contínuo, alerta que a vida tem dessas coisas, de vez em quando não sobra nada dentro da gente. Mas é bom prestar atenção porque isso só acontece enquanto se vive.

A via crucis do corpo, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes, baseada em sua primeira edição.



Autora ao mesmo tempo mais popular e mais respeitada do país, Clarice Lispector está presente na web com mais de dois milhões de entradas no Google. Seus textos e pensamentos circulam pela rede angariando novos leitores a cada dia. Com As palavras, a Rocco atende a demanda de leitores ávidos por pensamentos de referência do universo clariceano, respeitando a soberania verbal, plástica, afetiva, filosófica, poética e artística da autora. Organizada pelo pesquisador e professor da UERJ Roberto Correa dos Santos, a coletânea traça um percurso amoroso pelas frases mais marcantes deixadas pela escritora, num convite à (re)leitura de sua obra completa.



Desde o início, Clarice Lispector recusou a escravidão dos gêneros. Escrevia por fragmentos que depois montava. Escrevia aos arrancos, transcrevendo um ditado interior. As estruturas clássicas não faziam parte desse ditado. Seu olhar passava por cima das regras, quase voraz em sua busca da essência. Este livro bem o demonstra. É composto por contos escritos em épocas diversas da vida de Clarice. E por não-contos. Muitos deles - como Felicidade clandestina, que dá título ao livro - foram publicados no Caderno B do Jornal do Brasil. Como crônicas. Que também não eram crônicas. Convidada em 1967 para escrever semanalmente no JB, Clarice deparou-se com um fazer literário novo. Intimidade a princípio, logo negou os padrões vigentes: "Vamos falar a verdade: isto aqui não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gêneros. Gêneros não me interessam mais". E "isto" era a mais pura e rica literatura. Nos contos/crônicas/textos - que eu, como subeditora do Caderno recebia semananlmente, datilografados em um envelope de papel pardo, com a recomendação, sempre repetida, de não perdê-los pois eram originais sem cópia - Clarice se expunha em recordações familiares e de infância. Sua irmã Tânia ainda se lembra da menina, filha de livreiro, que encontramos em Felicidade clandestina, atormentando Clarice por conta do empréstimo de um livro. O professor de Desastres de Sofia realmente percebeu o tesouro que Clarice menina escondia. E Come menino é um claro diálogo entre a autora e seu filho. Nada diferencia esses contos, escritos para serem crônicas, de outros contos que aqui estão, escritos para serem contos e publicados anteriormente no livro A legião estrangeira. Pois a força de Clarice não nos chega através das estruturas. Seus textos podem ser desmontados, desfeitos em pedaços - até mesmo diferentes dos fragmentos originais - sem que se perca sua intensidade. Cada palavra ou frase dessa escritora sem igual origina-se em camadas tão fundas do ser, que traz consigo, mais do que um testemunho, a própria voltagem da vida. (Marina Colasanti - jornalista e escritora).



 Esta obra reúne contos onde as personagens - sejam adultos ou adolescentes - debatem-se nas cadeias de violência que podem emanar do círculo doméstico. Homens ou mulheres, os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento. Clarice Lispector trata a solidão, a morte, a incomunicabilidade e os abismos da existência através da rotina de dona-de-casa, do mergulho em uma festa familiar nos 89 anos da matriarca, da domesticação da natureza tida como mais selvagem das mulheres, ou dos pequenos crimes cometidos contra a consciência, como o drama do professor de Matemática diante do abandono e da morte de um animal.











Este livro é sobre de um homem aflito que criou uma personagem, Ângela Pralini, seu alter-ego. Mas ora ele não se reconhecia em Ângela, porque ela era o seu avesso, ora odiava visceralmente o que via refletido naquela estranha personagem-espelho.
Aprendendo a Viver é uma seleção das crônicas mais confessionais escritas por Clarice Lispector na década de 70. Organizado por Pedro Karp Vasquez, o livro reúne uma série de textos em que a escritora conta sua própria vida. É Clarice Lispector na primeira pessoa, detalhando passagens marcantes de sua história, divagando sobre os temas mais variados, revelando particularidades de seu cotidiano e esmiuçando seu processo criativo. Com ele, a Editora Rocco celebra os 40 anos de publicação de A paixão segundo G.H., romance que representa um divisor de águas na obra da autora e que hoje é considerado um clássico da literatura brasileira. 





Por Bia Oliveira 

Fontes de
 Pesquisa:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector
Skoob 

17 dezembro 2015

Frases: Amor

Olá Leitores! Quem gosta de frases, vai amar, esse livro. "Amor" é um livro de bolso, repleto de belas  frases o tema principal é o amor. Frases simples, mas muito bem focadas, nos levam a fazer belas reflexões. As frases são perfeitas para enriquecer, as redes sociais. Mandar para quem a gente ama. É sempre bom compartilhar, com os amigos algo que nós deixe mais leve, e nos inspire, muitas vezes uma única frase pode mudar o dia de alguém. As palavras têm um grande poder.Este livro faz parte de uma coleção com três volumes:  AMOR, FELICIDADE e GENTILEZA.  Os livros são lindos  do conteúdo, a aparência. Devido as muitas frases cada uma mais bela que a outra, em breve postarei uma segunda publicação, com mais algumas frases do livro. Boa leitura a todos! 





Eu amo, sem economias.
Eu amo, apesar das suas dúvidas.
Sei que você não é o que os outros dizem, tampouco o que aparenta ser. 



Quer me conhecer melhor? 
Venha com calma. 
Não se encaminha em diamantes na escuridão. 






O amor é assim...
Esperado. 
Inesperado. 





Cai. 
Foi mais fonte do que eu imaginava.
Minhas mãos não conseguiram alcançar 
os amores que estavam por toda parte. 
Teimei em olhar apenas para uma direção 
e fiquei imóvel, esperando por você





Venha rabiscar meu caderno. 
Não se preocupe com a letra nem com a inspiração.
A primeira  página é sua.
A segunda também. 
E a terceira. 
A quarta. 
ah, não posso me esquecer da capa- tem a foto dos nossos desejos. 




Você não é o primeiro nem será o último a sentir a infinitude 
de um amor partido.
Comece costurando os pedaços abertos.
Com paciência.
Depois, lave tudo com a água do tempo
e espere pela visita do eu perdido. 




Chorar faz parte do pacto do medo 
com o tempo. 
Só não se deixe esvaziar. 





Reclame um pouco menos.
Isso!
Assim é mais fácil gostar de você. 





Eu sei que há amor entre nós, mas é preciso 
um tanto de cuidado para que o vento que
sopra, onde quer e como quer, não desmanche 
os nossos desejos. 






Amanhã, nossos corpos deixarão o vigor dos primeiros 
dias e ganharão a história construída de um amor 
encontrado, cuidado. Jovens ou velhos, juntos, apaixonadamente
juntos, enternecidamente juntos. 




Não tenha medo da tristeza. 
Ela não tem o poder de roupar a felicidade.
Ela vai do mesmo jeito que vem. 
Você fica. 




Se há amor, por que essa falta de delicadeza? 
Não machuque quem você ama. 
Isso. 
Assim é que se faz. 
Suavidade. 



Ontem lhe disse tantas coisas. 
Acho que cheguei a ofender
com a rudeza da minha voz. 
Perdoe-me.
São as vozes que me incomodam
e tentam arrancar o que há de mais pelo 
em mim - o amor que sinto por você. 




Eu quero você, meu amor.
Pronto.
Falei. 



Te amo tanto que nem cabe...



Brigar por isso? 
Será que vale a pena?
Então brigue sozinho. 
Quando eu perceber o silêncio, 
volto e ocupo o lugar que conquistei...
Conquistamos. 





Eu te amo pela simples razão de habitar os meus sonhos
e dizer, sem palavras que será sempre assim. 





Vamos apenas nós dois. 
Não há por que ter medo 
de nossas imperfeições. 




O arquiteto do mundo apenas amou, 
e a obra se fez. 
O detalhe está em uma centelha que Ele
esqueceu propositalmente em cada um de nós
e que reluz quando se lembra da intenção primeira.
Não há como matar a centelha do amor. 
O que se pode fazer é fingir que ela não existe. 




Por Bia Oliveira



Sobre o Autor

09 dezembro 2015

Resenha: Segredos de uma noite de verão

Segredos de Uma Noite de Verão

Apesar de sua beleza e de seus modos encantadores, Annabelle Peyton nunca foi tirada para dançar nos eventos da sociedade londrina. Como qualquer moça de sua idade, ela mantém as esperanças de encontrar alguém, mas, sem um dote para oferecer e vendo a família em situação difícil, amor é luxo ao qual não pode se dar.

Certa noite, em um dos bailes da temporada, conhece outras três moças também cansadas de ver o tempo passar sem ninguém para dividir sua vida. Juntas, as quatro dão início a um plano: usar todo o seu charme e sua astúcia feminina para encontrar um marido para cada, começando por Annabelle.

No entanto, o admirador mais intrigante e persistente de Annabelle, o rico e poderoso Simon Hunt, não parece ter interesse em levá-la ao altar – apenas a prazeres irresistíveis em seu quarto. A jovem está decidida a rejeitar essa proposta, só que é cada vez mais difícil resistir à sedução do rapaz. 

As amigas se esforçam para encontrar um pretendente mais apropriado para ela. Mas a tarefa se complica depois que, numa noite de verão, Annabelle se entrega aos beijos tentadores de Simon... e descobre que o amor é um jogo perigoso.

No primeiro livro da série As Quatro Estações do Amor, Annabelle sai em busca de um marido, mas encontra amizades verdadeiras e desejos intensos que ela jamais poderia imaginar.

“Um romance excelente.” – Publishers Weekly


Sinopse: Skoob 



Olá Leitores! Para quem gosta de um romance de época, esse é livro  perfeito para aumentar, sua  coleção.E ele não vem sozinho. "Os segredos de uma noite de verão". é o primeiro da coleção. "As quatro estações do amor". 


Um romance de época, onde o interesse, prevalece, sobre o amor. Onde ás aparências, vale mais que a essência. Um casal nada convencional, são os protagonistas desta história. Annabelle Peyton. uma bela moça, que há três bailes anuais, na corte de Londres, tenta, encontrar, um aristocrata, que a escolha para casar. Sua  maior preocupação, não é apenas porque só lhe resta, um último baile. Para tentar, impressionar, um cavalheiro, antes de ser declaradamente encalhada. Seu interesse, está muito além disso. Sua mãe Phelippa  é viúva, seu irmão, Jaremy ainda é um garoto, que estuda em colégio interno. Sua família passa por grandes apuros financeiros. Annabelle nos bailes, da corte passa um pouco de vergonha, por sua roupas estarem, muito desgastadas e por exibir joias falsas.  Por ser tão visível sua dificuldade financeira. A moça já recebeu algumas propostas, para  ser amante de alguns homens da corte. Isso a incomoda, bastante, sem cortar dos rumores, que surgem de que ela é amante de um velho asqueroso, da corte, que muitas vezes, ao ser consultado sobre o boato, nem confirma e nem desmente. Isso só o deixar envaidecido, pela possibilidade de ter a linda e jovem Annabelle como sua conquista. E isso compromete a reputação da moça. Infelizmente Annabelle, sabe que por mais remota que seja a possibilidade, de se   tornar amante de um aristocrata, essa pode ser  a única alternativa. Tudo depende do que vai acontecer na última temporada dos bailes. 




Simon Hult filho de um a soqueiro, que trabalhou, longe na corte, construiu seu patrimônio, por outros caminhos, é investidor, industrial. Por não ser de  família tradicional. E por fazer parte da classe trabalhadora, Simon, é visto com um certo preconceito, especialmente pelas moças da corte.Incluindo Annabele.  Mas por sua influencia, como investidor, enquanto algumas família tradicionais, passam por alguns apuros financeiros.  O ramo que Simom investe, cresce a passos largos.  Simon é um rapaz alto forte, de uma aparência imponente, de costumes, que pode se considerar, grosseiros, comparando  aos costumes nos homens da corte. Que costumam, ser franzinos, de traços delicados, de um cavalheirismos, que beira, a chatice e  que gostam de poesias... 


Simon  ficou apaixonado, desde que viu Annabele, pela primeira vez, na porta do teatro com o irmão. A quem Simon conhecia, e chegou a convidar os dois para assistirem ao espetáculo, em questão. (Annabele e o irmão ficaram da porta do teatro, por não terem dinheiro suficiente, para comprar as entradas). Por muita insistência, e para fazer a vontade do irmão Annabelle aceito o convite, para assistir ao espetáculo, sua antipatia pelo cavalheiro foi a primeira vista. Mesmo assim ao roupar o beijo da moça durante o espetáculo. Annabelle não pode resistir ao beijo, que há deixou, estarrecidamente, impactada... Mesmo assim, isso não a fez amolecer nem um pouco sua antipatia pelo imponente rapaz, rustico, e de uma pegada inesquecível. Será que essa antipatia e implicância, pelo jovem rapaz irá se reverter?  


Um romance, que no inicio me prendeu bastante, mas do meio me pareceu que seria monótono. Me surpreendeu, totalmente e positivamente.    Alternando: bom humor, brigas, momentos de tenção. A amor, paixão e desejo. Esse é um livro intenso com emoções, distintas. Que   vale muito, apena ler.  Os diálogos triviais , são bem recompensados,pela intensidade,dos acontecimentos, tornando a  história,  incapaz de ser deixada de lado... 

  Espero que tenham gostado da resenha. Chaw até a próxima! 




Por Bia Oliveira 

03 dezembro 2015

Frases: Se eu pudesse viver minha vida novamente...

Para alimentar, a alma com poesia, reflexão e saudade. Assim é o livro:  Se eu pudesse Viver Minha Vida Novamente... Essa frase em algum  momento ou em vários momentos de nova vida já dissemos. Ora com gosto de saudade, ora com gosto de arrependimento. O desejo de voltar no tempo sempre vai existir. Rubem  Alves nos leva a uma fascinante  viagem as suas memórias. suas reflexões passeia por citações e poemas dos escritores (as) , Como Adélia Prado, Cecília Meireles, Drummond,  Fernando Pessoa e tantos outros. O que torna esta leitura que por si só já é fascinante, em um oásis da poesia. Leitura rápida, com grande valor reflexivo. Vale muito, muito apena ler. A sensação é de que estamos tendo uma prosa muito edificante, sobre a vida com o escritor . O livro é dividido em duas partes: Parte 1 Se eu pudesse...Sobre a nostalgia, sonhos, perdas e ganhos.  Parte 2 ...viver minha vida novamente...Sobre os pequenos detalhes que fazem toda a diferença.







“se eu pudesse viver minha vida novamente”, eu
quereria vivê-la do jeito mesmo como a vivi, com seus desenganos, fracassos e equívocos.
Doidice? Imaginem que eu estivesse infeliz. Eu teria então todas as razões para voltar
atrás e tentar consertar os lugares onde errei. Mas eu não estou infeliz. Vivo um
crepúsculo bonito...


Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri.


As pontes que construía para chegar aonde eu
queria ruíam uma após a outra. Eu era então obrigado a procurar caminhos não
pensados. E aconteceu, por vezes, que nem mesmo segui, por vontade própria, os
caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente
obrigado a fazer o que não queria.



A experiência literária é
um ritual antropofágico. Antropofagia não é gastronomia. É magia. Come-se o corpo de
um morto para se apropriar de suas virtudes. Não é esse o objetivo da eucaristia, ritual
antropofágico supremo? Come-se e bebe-se a carne e o sangue de Cristo para se ficar
semelhante a ele. Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que devorei... E, se escrevo, é
na esperança de ser devorado pelos meus leitores.



No paraíso não havia templos. Deus andava pelo jardim,
extasiado, dizendo: “Como é belo! Como é belo!” A beleza é a face visível de Deus.
Menino, o mundo me era divino e sem deuses. Talvez seja essa a razão por que Jesus
disse que era preciso que nos tornássemos crianças de novo, para ver o paraíso
espalhado pela terra.



Inconscientemente nunca acreditei que Deus pudesse lançar uma
alma ao inferno por toda a eternidade. É crueldade demais! Eu não admitiria que um
homem fizesse isso. Como poderia admitir que Deus o fizesse? E também nunca fui
atraído pelas propaladas delícias do céu. Para dizer a verdade, não conheço nem uma
pessoa que esteja ansiosa por deixar as pequenas alegrias desta vida para gozar
eternamente a felicidade celestial perfeita. As pessoas religiosas que conheço cuidam bem
da saúde, caminham, fazem hidroginástica, controlam o colesterol, a pressão, a
glicemia... Elas querem continuar por aqui. Não querem partir.




Esta alegria de viver me faz encontrar Deus a passear pelo jardim ao vento fresco da
tarde.




A solidão e o  sofrimento me fizeram sensível à voz dos poetas.





O feiticeiro é aquele que diz uma palavra e, pelo puro
poder dessa palavra, sem o auxílio das mãos, o dito acontece. Deus é o feiticeiro-mor:
falou e o universo foi criado. Os poetas são os aprendizes de feiticeiro. O desejo que
move os poetas não é ensinar, esclarecer, interpretar. Essas são coisas da razão. O seu
desejo é mágico: fazer soar de novo a melodia esquecida. Mas isso só acontece pelo
poder do sangue do coração humano.


Pois é, ensinaram-lhe que você é uma
ferramenta que merece viver enquanto puder fazer. E agora que o seu fazer não faz mais
diferença, você se coloca ao lado dos objetos sem uso. À espera de que a morte venha
colocá-lo no devido lugar, pois nada mais há que esperar. Você está sem esperança.





Terminado o tempo do trabalho, chegara o tempo do
desfrute. E o Criador se transformou em amante: entregou-se ao gozo de tudo o que
fizera. Com as mãos pendidas (pois tudo o que devia ser feito já havia sido feito), seus
olhos se abriram mais. Olhou para tudo e viu que era lindo. Pôs-se a passear pelo
jardim, gozando as delícias do vento fresco da tarde. E, embora os poemas nada digam a
respeito, imagino que o Criador tenha também se deleitado com o gosto bom dos frutos
e com o perfume das flores – pois que razões teria ele para criar coisas tão boas se não
sentisse nelas prazer?



E você me pergunta, então, onde está a escola em que se ensina essa sabedoria
esquecida... Não, não há escolas para isso. Todas as escolas só nos ensinam a ser
ferramentas. Será preciso que você procure mestres que ainda não foram enfeitiçados por
elas. Você deve procurar as crianças. Somente elas têm o poder para quebrar o feitiço que
o está matando ainda em vida.




As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda
sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é
brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!




Ah! A vida é bela! O mundo é belo! É por isso que toda despedida é triste. E é isto
que eu sinto: que a morte é uma saudade sem remédio.



...Existe sempre a tentação de prender o Pássaro Encantado, o Grande Mistério, em gaiolas de palavras. O poeta é  aquele que ama o Pássaro em voo. O poeta voa com ele e vê as terras desconhecidas a que
o seu voo leva. Por isso não há nada mais terrível para um poeta que ver um Pássaro
engaiolado... Daí que ele se dedique, hereticamente, à tarefa de abrir as portas das
gaiolas, para que o Pássaro voe... E é para isso que escrevo: pela alegria de ver o Pássaro
em voo.




O ato de ver é uma oração. O   místico não se encontra no invisível. O místico se encontra no visível. O visível é o
espelho onde Deus aparece refletido sob a forma de beleza. Deus é um esteta. Quem experimenta a beleza está em comunhão com o sagrado.






Escreveria para as pessoas comuns. E que outra maneira existe de
se comunicar com as pessoas comuns senão simplesmente dizer as palavras que o amor escolhe?



Existe sempre a tentação É por isso que os olhos dos velhos vão se Os silêncios são sempre embaraçosos porque nunca se sabe o que o outro está pensando .




Eu nunca consegui chegar a lugar algum usando remos. 




Por Bia Oliveira 


Sobre o Autor:  

29 novembro 2015

Arrume o relógio

Perguntou-me um senhor se eu sabia onde havia um relojoeiro. Disse-lhe que sabia e expliquei como chegar até ele. Agradeceu e explicou-me que, ultimamente, ninguém se preocupa em arrumar as coisas. Jogam-nas no lixo e querem novidade. O relógio que precisava de conserto era do filho. O filho queria comprar outro, e ele disse que não. "Arrume o relógio, meu filho!”.
Ouvi aquele senhor que parecia precisar de algum ouvinte. Como estava atento, ele colocou-se a falar de outros temas. Reclamava, com elegância, dos que não gostam de arrumar as coisas. "Antigamente, havia um valor afetivo em cada bem que possuíamos. Guardávamos objetos dos nossos avós, dos nossos pais com algum respeito."
Fez gestos agradecidos pela atenção e seguiu, em passos vagarosos, rumo ao relojoeiro. Afinal, tinha um objetivo naquela manhã, quase um compromisso, arrumar um relógio.
Saí da despretensiosa prosa pensando na sua calma e no seu comedimento ao criticar a sociedade dos descartáveis em que vivemos hoje.
 Arrumar um relógio. Não. Não se tratava apenas de arrumar um relógio. Tratava-se de um olhar para os costumes, para os valores que damos às coisas. Para o tempo dispensado a recuperar um bem e não a , simplesmente, substituí-lo.
Passemos das coisas às pessoas. O que é mais fácil, arrumar uma pessoa nova e descartar a que está, em nossa opinião, estragada, ou dar-lhe a chance de consertar o que não vai bem? Arrumar pessoas é mais complexo do que arrumar relógios. Requer mais tempo. Tempo que não se mede olhando para relógios, mas para o tempo das pessoas.
Namoros são descartados com muita facilidade. Há desculpas de todas as ordens. Necessidades de conhecer outras pessoas, liberdade de curtir a vida, falta de paciência de estar na rotina do mesmo enlace. Amigos também são descartados se dão trabalho. Não há lojas que consertem amigos nem lojas que consertem relações. Não se pode deixar lá e pegar depois como se faz com um relógio. Relações são consertadas em concertos de amor. É como uma orquestra de barulhos bons que nos remete à música composta por nossas histórias comuns. Baladas tristes e alegres. Caminhos que nos fizeram desejar estar juntos. 
Descartar um amor, um amigo, um alguém, por imperfeições, demonstra desconhecimento da natureza humana. Somos imperfeitos como condição de existência. Não fosse assim, nada precisaríamos aprender. Não fosse assim, nasceríamos prontos. 
Nos relógios em que vemos as horas, contamos as que desperdiçamos com bobagens e as que usamos para cultivar os afetos que nos sinalizam os caminhos da perfeição, Somos imperfeitos em busca da perfeição. E isso é bom. É bom quando sabemos. Não apenas onde ficam os relojoeiros, mas onde ficam as aprendizagens que nos ajudam a perceber o que devemos fazer com as horas que temos para existir.
No poema “Ah! Os relógios”, roga o poeta Quintana a seus amigos:

Amigos, não consultem os relógios 
quando um dia eu me for de vossas vidas 
em seus fúteis problemas tão perdidas 
que até parecem mais uns necrológios... 

Porque o tempo é uma invenção da morte: 
não o conhece a vida - a verdadeira - 
em que basta um momento de poesia 
para nos dar a eternidade inteira. 

Inteira, sim, porque essa vida eterna 
somente por si mesma é dividida: 
não cabe, a cada qual, uma porção. 

E os Anjos entreolham-se espantados 
quando alguém - ao voltar a si da vida - 
acaso lhes indaga que horas são... 

(Mário Quintana, in 'A Cor do Invisível' )

Bobagem viver consultando as horas. Bobagem descartar pessoas. Farão falta. Muitas partem sem que possamos decidir. As que ficam que fiquem nos ajudando a prosseguir. Prosseguir de mãos dadas, com ou sem relógios.