03 agosto 2016

Frases: Baú de Espantos

E ai você gosta de poesias?  Trago para vocês, um a dica de livro, que apenas pelo nome do autor dispensará, qualquer, especie de comentário, a respeito do livro:   Baú de Espantos de Mário Quintana. Preciso dizer mais alguma coisa ? com certeza não.  Ai vai  alguns  aperitivos poéticos, para a degustação, retirado do livro. Mas o melhor mesmo é apreciar sem moderação este  delicioso banquete, de poesias, que Quintana, nós oferece. Faz bem alimentar a alma com poesia.  Se você já leu algum livro do Quintana, vai amar esse, se você nunca leu, pode começar, por esse que você  não irá se arrepender. 

Sinopse "Baú de Espantos" foi uma das últimas obras de Quintana e reuniu 99 poemas até aquela data inéditos, havendo inclusive escritos de sua juventude, como o poema Maria , de 1923, quando ele tinha 27 anos, o que confere ao livro uma estrutura de rigorosa montagem e um caráter especial. Quase todos os poemas são breves e em versos livres, mas há sonetos (alguns com métrica e rima) e mesmo poemas em quadras com versos heptassílabos e rimados.

                                      


Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
Se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
Faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
[mesmo!
- inclusive o amor e outras novidades.





Maria
Que Linda estavas no dia
Da Primeira Comunhão.
Toda de branco, Maria,
Com rosas brancas na mão.
Nossa Senhora esquecia

Ao ver-te, a sua aflição,

E eu, contrito que heresia! -

Te rezava uma oração.

Pois quando te vi, de joelhos,
Pousar os lábios vermelhos
Nos pés do Cristo, supus
Que eras Santa Teresinha,
A mais linda e mais novinha
Das esposas de jesus!






O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina
enterrada
até os olhos, a manta enrolada nos queixos
e sempre resmungando: Eu não passo deste
agosto.
eu não passo deste agosto...






O Verão é um senhor gordo, sentado na varanda,
[suando em bicas e reclamando cerveja.
O Outono é um tio solteirão que mora lá em cima no
[sótão e a toda hora protesta aos gritos: Que
[barulho é esse na escada?!

O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina

[enterrada

[até os olhos, a manta enrolada nos queixos

[e sempre resmungando: Eu não passo deste

agosto.

[eu não passo deste agosto...

A Primavera, em contrapartida
[- é ela quem salva a honra da família!
[é uma menininha pulando na corda cabelos ao
[vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu o cheiro de terra que sobe do
chão
o tapa do vento na cara molhada!
Oh! a alegria do vento desgrenhando as árvores revirando os pobres guarda chuvas
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças
sob as vaias do vento...
Enquanto
- desafiando o vento, a chuva, desafiando tudo -
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida
a alegria da vida!



Eu gosto de fazer poemas de um único verso.
Até mesmo de uma única palavra
Como quando escrevo o teu nome no meio da página E fico pensando mais
ou menos em ti
Porque penso, também, em tantas coisas... em ninhos Não sei por que vazios
em meio de uma estrada Deserta...
Penso em súbitos cometas anunciadores de um
[Mundo Novo
E imagina!
Penso em meus primeiros exercícios de álgebra, Eu que tanto, tanto os
odiava...
Eu que naquele tempo vivia dopando-me em cores,
[flores, amores,
Nos olhos-flores das menininhas - isso mesmo! O
[mundo
Era um livro de figuras
Oh! os meus paladinos, as minhas princesas
[prisioneiras em suas altas torres,
Os meus dragões
Horrendos
Mas tão coloridos...
E - já então - o trovoar dos versos de Camões:
"Que o menor mal de todos seja a morte!"
Ah, prometo àqueles meus professores desiludidos que
[na próxima vida eu vou ser um grande matemático Porque a matemática é
o único pensamento sem dor...
Prometo, prometo, sim... Estou mentindo? Estou!
Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo...

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano vive uma louca chamada
Esperança
e ela pensa que quando todas as sirenas
todas as buzinas
todos os reco-recos tocarem,
atira-se
e
- o delicioso vôo -
será encontrada miraculosamente incólume na calçada, outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá, então,
(é preciso explicar-lhes tudo de novo!),
ela lhes dirá, bem devagarinho. para que não
[esqueçam nunca:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...





Quando desperto mansamente agora 
é toda um sonho azul minha janela
e nela ficam presos estes olhos,
amando-te no céu que faz lá fora.
Tu me sorris em tudo, misteriosa...
e a rua que - tal como outrora - desço,
a velha rua, eu mal a reconheço
em sua graça de menina-moça...
Riso na boca e vento no cabelo,
delas vem vindo um bando... E ao vê-lo
por um acaso olha-me a mais bela.
Sabes, eu amo-te a perder de vista...
e bebo então, com uma saudade louca,
teu grande olhar azul nos olhos dela!






Por Bia Oliveira 

Fonte imagens internet 




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