26 fevereiro 2017

Memória Literária: Feliz Aniversário



#Clarice-se 

"...vestira a aniversariante logo depois do almoço.
Pusera-lhe desde então a presilha em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um
pouco de água-de- colônia para disfarçar aquele seu cheiro de guardado – sentara-a
à mesa. E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa
mesa vazia, tesa na sala silenciosa".



Feliz Aniversário. 


Neste conto, vamos conhecer D. Anita, uma senhora de 89 anos, que vive no ambiente familiar, a indiferença, que muitos idosos, sentem por estarem longe de suas famílias. 



"...a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa

mesa vazia, tesa na sala silenciosa".



A mesa pode ser interpretada como uma metáfora da vida de dona Anita. Durante a festa fica claro, a indiferença, dos filhos, netos e noras. Para com a aniversariante. Noras, totalmente, desconfortáveis, do ambiante. Netos indiferentes. Ah! e os presentes, os poucos que levaram, não trouxeram, nada de útil, que a dona da casa ( a única filha de dona Anita) pudesse, aproveitar para ela ou para os filhos. Nada que a própria aniversariante pudesse aproveitar. 



"Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que
ninguém podia saber se ela estava alegre. Estava era posta à cabeceira. Tratava-se
de uma velha grande, magra, imponente e morena. Parecia oca".


Ninguém é completo se falta na vida, afeto, carinho, amor e uma convivência, familiar verdadeira. Sem isso a vida se torna oca, sem sentido. Assim também é a realidade, de muitos idosos. Sempre nos comovemos, quando vemos pela tv idosos, abandonados, no asilo, ou em casa de repouso. Nesta conto Clarice, nos mostra. Que nem sempre, são amados, os idosos, que vivem com os filhos.  No conto, não se relata, maus-tratos ou coisas do tipo. Apenas a indiferença. Uma especie, de agressão, onde as marcas se escondem na alma.  



A indiferença, por parte dos parentes de dona Anita. Durante todo ano. Faz ela retribuir a indiferença, no dia em que seus filhos, noras e netos,se reúnem para celebrar o dia da matriarca, da família. ( por obrigação). Ela sendo a pessoa mais importante  da festa se recusa a fazer parte, do tearo, de hipocrisia, que  está por traz do seu aniversário.   Quando o  filho chega a festa, de forma imponente, querendo mostrar, para todos, o que não era. Falou de forma contemplativa, e cheio de admiração. oitenta e nove anos! oitenta e nove anos! Mas de nada adiantava, tanta enfase. naquela frase. A octogenária, parecia está surda. 


E assim os convidados, continuaram a festa, para eles mesmos. O que  de fato era. Uma festa para que cada parente, se sentisse aliviado, da culpa de não serem a família que dona Anita merecia ter. Durante a festa, o sócio de José, Manoel ambos  filhos da aniversariante. tenta puxar assuntos sobre negócios e o filho José com falso ar de severidade diz: Hoje não se fala de negócios. - nada de negócios hoje é o dia da mãe!  A hipocrisia, continua a rolar e a aniversariante continua sentada a mesa, imóvel, e indiferente. Enquanto todos festejavam ela silenciosamente, reflete:



    
"...ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela
vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres
opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo
devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a
quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os
resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem
capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres
risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio".



De volta a realidade, a aniversariante e mãe, reage a tudo o que está acontecendo  á sua volta, cuspindo do chão, xingando, os parentes  e pedindo um copo de vinho. Sua ação assusta, todos ficam quietos, uns voltava a atenção para si mesmo. Como diz o ditado: "Para bom entendedor meia palavra basta" Logo depois os parentes, uma a um vão indo embora se despedindo da aniversariante com um beijo, Dona Anita volta a  ser a  aniversariante e mãe indiferente, 



''A aniversariante recebeu um beijo cauteloso de cada um como se sua pele tão
infamiliar fosse uma armadilha".



Assim como no inicio, a aniversariante, termina, sua noite de festa da cabeceira da mesa.Sozinha.  E seu único pensamento é : Será que hoje não vai ter jantar. No lado de fora os parentes se despendem entre si. Prometendo  no próximo ano se encontrarem .para comemorar os noventa anos da MÃE. 


Só no próximo ano a mãe voltará a ser mais importante que os negócios...




Por Bia Oliveira
Fonte: imagens Google 




Foi maravilhoso, ler este conto de Clarice. 







16 comentários:

  1. A Clarice é fonte inesgotável de cultura e referência. Minha filha adora e até a presenteei com os contos completos, que estou fuçando e adorando.
    Bjs

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    1. olá! concordo, sobre tudo que você falou sobre Clarice. Sobre o livro Todos os contos. ele é meu sonho de consumo.

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  2. Olá
    Já li alguns contos da autora em uma época bem dark da minha vida, eu acho que as escrita dela carrega uma melancolia, uma tristeza que era da personalidade dela, e ela transbordava tudo isso do papel, e ela encontrou uma pessoa que conseguia absorver tudo isso, eu, e quando percebi que não estava me fazendo bem acabei abandonando a autora, mas sinto vontade de voltar a lê-la um dia.

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    1. oi Daniele. Realmente, A Clarice, e seus textos, são bem melancólicos. Mais o que mais gosto nos textos, é que ele sempre nós leva a refletir. E tira uma boa lição de cada um deles.

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  3. Nossa, que história profunda. Engraçado como as coisas são realmente assim, muitos so lembram que existimos e que somos importantes no nosso aniversário, e as vezes o aniversário nem chega para nos lembrar disso. Por isso que eu sempre tento falar com as pessoas nos momentos menos esperados por elas! É bom surpreender assim!

    MEMÓRIAS DE UMA LEITORA

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  4. é verdade Suzane. Nós não sabemos quanto tempo ainda nós resta. Para amar quem está perto de nós.

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  5. Nossa, que conto interessante. Adorei. Ainda estou tem bastante tempo a ler Clarice, mas nunca surgiu oportunidade. Acho que esse projeto/desafio seria uma boa para mim se eu conseguisse seguir né haha Ótimo post!
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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    1. oi Carool consegui sim os contos são bem curtinhos. vamos participar. Olha o link do grupo https://www.facebook.com/groups/1160372797372676/

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  6. Hello, tudo bem?
    Nossa, que conto triste.
    Pior que isso é mais comum do que imaginamos, e nao somente com idosos, com essa era da teconologia, todo mundo so fica no cell e nao curte as pessoas que estao em volta.
    Esse trecho diz tudo:
    "Ninguém é completo se falta na vida, afeto, carinho, amor e um convivência, familiar verdadeira"
    Deu para refletir lendo o conto.
    Beijos.

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    1. Oi Suzzy Está frase do texto que vc citou é de minha autoria. Clarice é não fantástica que nós faz até escrever algo legal. Obgd pela visita. bjs

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  7. Olá, tudo bem?
    Clarice é puro amor! Adorei o conto, um beijo.

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    1. Oi Rayanni é verdade Clarice escrevia com a alma o cotidiano da vida. bjs

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  8. Oi Bia, que conto triste, infelizmente é a nossa realidade, hoje, os idoso são vistos como fardos ao invés de serem visto com pessoas com grandes sabedorias, onde os mais jovens podem aprender e muito. Bjokas.

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    1. Olá Franciele. Seu comentário é uma indiscutível, e triste verdade. Bjs

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  9. Olá!

    Que conto dolorido, até bateu uma pena aqui. Acho que entendi o final do conto, pena que será tarde demais. Obrigada por dividir esse conto conosco...

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  10. Nossa...adoro tudo que a Clarice escreve. Ela sempre dando um tapa na cara da sociedade. kkkk Esse conto deve ser muito bom. A realidade de muitas famílias por ai.
    Beijos,
    Monólogo de Julieta

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