Arrume o relógio
Perguntou-me um senhor se eu sabia onde havia um relojoeiro. Disse-lhe que sabia e expliquei como chegar até ele. Agradeceu e explicou-me que, ultimamente, ninguém se preocupa em arrumar as coisas. Jogam-nas no lixo e querem novidade. O relógio que precisava de conserto era do filho. O filho queria comprar outro, e ele disse que não. "Arrume o relógio, meu filho!”. Ouvi aquele senhor que parecia precisar de algum ouvinte. Como estava atento, ele colocou-se a falar de outros temas. Reclamava, com elegância, dos que não gostam de arrumar as coisas. "Antigamente, havia um valor afetivo em cada bem que possuíamos. Guardávamos objetos dos nossos avós, dos nossos pais com algum respeito." Fez gestos agradecidos pela atenção e seguiu, em passos vagarosos, rumo ao relojoeiro. Afinal, tinha um objetivo naquela manhã, quase um compromisso, arrumar um relógio. Saí da despretensiosa prosa pensando na sua calma e no seu comedimento ao criticar a sociedade dos desca...