A ternura de meu pai

Meu pai era um homem terno. Gostaria de estar com ele. Gostaria de ter tido o poder de prolongar o tempo. O tempo das prosas de tantos entardeceres. Juntos. Infância regada a exemplos. Gentileza natural nascida na crença de que o outro merece sempre o nosso melhor. Calvários doloridos os de meu pai. Foi preso, injustamente, na época da ditadura Vargas. Trabalhou com afinco. Primeiramente, para ajudar os pais. Limpou escolas, plantou em hortas, vendeu na feira, trabalhou no comércio, virou comerciante, empresário, construtor. Não teve oportunidade de estudar. Estudou, entretanto, a alma humana, com tamanha delicadeza e paciência que se formou mestre na área complexa de compreender que o outro merece ser respeitado. Sofreu meu pai pela morte de dois filhos. Chorou a inversão da lógica. Um morreu aos 21 anos, acidente de carro. O outro de complicações no pulmão, aos 33. Tinha síndrome de Down. Era o centro da casa. Alegria contagiante de quem não tem economia em expressar ...