O último voo do poeta
Nosso poeta Manoel de Barros voou. Estamos comovidos, em silêncio, buscando ouvir o último ruflar de suas asas. Nosso poeta desejou tanto usar “palavras de ave para escrever”; mas cometeu muito mais do que isso: suas palavras se fizeram asas para além do voo. E permanecem no ar, ora soltas, ora em frases, desafiando-nos a capturá-las. O poeta, que nasceu menino, partiu menino. Fez de sua maturidade a sua segunda infância; uma vida em poesia. Fez de sua arte um brinquedo. Despojado de regras e convenções, descontruiu a linguagem, poetizou a natureza e o mundo, vestiu de singeleza as palavras. Fez da vida sua arte de simplicidade. Dizia que sua poesia era difícil de ser compreendida, embora fosse feita com palavras simples. Muitos não entendiam essa declaração. Mas é preciso fazer-se criança para compreender. Admirar-se. Encantar-se. Desinventar-se. Manoel de Barros nasceu às margens de um rio, cresceu menino do mato e amigo do silêncio. A palavra sempre foi seu jogo predile...