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Compaixão

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Fonte: http://chalita.com.br/ Há palavras que nos trazem significados tão essenciais que é preciso, vez ou outra, usar um pouco de nosso tempo para refletir sobre elas. Compaixão é uma dessas palavras. Compaixão significa "sofrer com". É a capacidade que tem uma pessoa de sofrer com a outra. De se colocar no lugar da outra, consciente de que fazemos parte do mesmo barro, da mesma espécie, da mesma humanidade. Compaixão não se confunde com pena. Quem tem pena olha de cima para baixo. Quem tem compaixão senta junto. A pena é passiva. A compaixão, não. Ela requer atitude frente ao sofrimento do outro. Uma atitude que vise a minimizar a dor alheia. Para isso, é preciso sensibilidade e generosidade. Há exemplos por todos os lados: gente que sai a cuidar de quem precisa, que usa parte de seu tempo para ajudar os outros a encontrar significado para a própria vida. Em trabalhos voluntários, é comum ver pessoas se emocionando com a capacidade que tiveram de roubar o sor...

O sabor da amizade

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Fonte: http://chalita.com.br/ Quando um ano finda, muitas pessoas gostam de limpar as gavetas. De jogar fora documentos que não mais terão utilidade. Papéis desnecessários. Há os que arrumam o guarda-roupa. E tiram as roupas que já não servem ou que servem, mas podem servir melhor a outras pessoas que têm menos. Como é bom ser solidário. Alguns guardam agendas antigas como memória de conquistas e de aborrecimentos. Outros as descartam. Há aqueles que fazem uma limpeza no computador. Programas que não são utilizados e que só ocupam espaço. É sempre bom deixar um lugar para o novo. Descartar coisas nos faz muito bem. Descartar pessoas, não. Evidentemente, há algumas que nos pesam e que nunca foram nossas amigas. Surgem para dar notícia ruim. E saem para fazer comentários piores ainda. Essas não contam. Aliás, é bíblica a reflexão de que "são belos os pés do mensageiro que anuncia a boa nova, a boa notícia". E sempre há uma boa notícia a ser dada, é só ter boas ...

Não sei quantas almas tenho

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Fernando Pessoa Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu.

Presságio

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Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar pra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente… Cala: parece esquecer… Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar…

Aniversário

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Fernando Pessoa No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui… A que distância!… (Nem o acho…) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes… O que eu sou hoje (e a casa dos...

Autopsicografia

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Fernando Pessoa O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

Ode marítima

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Fernando Pessoa Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão, Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido, Olho e contenta-me ver, Pequeno, negro e claro, um paquete entrando. Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira. Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo. Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio, Aqui, acolá, acorda a vida marítima, Erguem-se velas, avançam rebocadores, Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto. Há uma vaga brisa. Mas a minh’alma está com o que vejo menos. Com o paquete que entra, Porque ele está com a Distância, com a Manhã, Com o sentido marítimo desta Hora, Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea, Como um começar a enjoar, mas no espírito. Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma, E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente. Os paquetes que entram de manhã na barra Trazem aos meus olhos consigo O mistério alegre e triste de quem chega e ...