Pequenos grandes amores
Há o grande amor de uma vida e há os pequenos grandes amores. O homem e a
mulher encontram o grande amor e se ele for mesmo o grande amor gera muitos
pequenos grandes amores, nascidos daquele amor. São, por exemplo, os pequenos grandes
amores que dão sentido à espera da jovem mulher que ainda não encontrou o seu
grande amor. Eu dizia isso tempos atrás a uma jovem de 30 anos que sofria
terrivelmente de solidão.
“Há,-dizia eu- um núcleo de pequenos grandes amores que fecham o cerco ao nosso
redor e impedem que a solidão, as somatizações, a ansiedade e a depressão nos
dominem. Você os vai amando e eles e elas vão amando você enquanto o seu grande
amor não vem. Vale dizer: enquanto você não encontra a sua alma gêmea, amor de
pai e mãe, de avós, de irmãos e sobrinhos e amigos e amigas vão preenchendo os
espaços do seu coração de mulher que deseja um lar, um homem que divida a vida
com você e filhos que dividam com vocês o mesmo lar. Quem não
tem estes outros relacionamentos serenos sofre muito mais a solidão do grande
amor que não veio. Pequenos grandes amores estão na sua casa dando todo o colo
e o carinho de que você precisa até que o amor sonhado aconteça. Se não
acontecer são esses pequenos grandes amores que motivarão a sua vida de
mulher.”
Ela ouviu atentamente e começou a contar nos dedos. Chegou a 35 pessoas
que poderia considerar pequenos grandes amores. Com o pai e a mãe, estes avós,
sobrinhos e amigos, estas amigas e gente que se importa e não invade nem força
tornaram sua vida de jovem mulher um caminhar sereno, ainda que sofrido. Os
três rapazes que poderiam ter lhe dado um lar, desistiram no meio do caminho.
Raramente pensamos nesses pequenos grandes amores, mas sem eles nenhum
grande amor daria certo.Preparam e continuam a nutrir um coração, mesmo depois
do grande encontro da pessoa certa.
Gosto de pensar que a vida nos prepara muitos antídotos dos quais nem
sempre nos damos conta. Mas quando algo nos envenena os pequenos grandes amores
são esses grandes antídotos. Ulceracões gástricas, ulceras, depressão, lágrimas
furtivas, coração pesado, desânimos e vazios diminuem ou até acabam quando nos
damos conta do quando somos amados. E daí se o tão sonhado grande amor não
veio? Continuamos amados e muito amados. Uma professora meses atrás dizia a uma
filha de 29 anos que lamentava a solidão causada pelo rapaz que se casara com
outra.
-” Doer ,dói e doerá. Mas não queira experimentar entre o melhor e o
pior.É bem melhor não ter o grande e sonhado amor, do que tê-lo e não poder desfrutá-lo
porque diminuiu Há perdas que libertam. Tente de novo. Enquanto isso, terá uns
vinte pequenos grandes amores torcendo de novo por você.Sem eles você estaria
perdida. Com eles um dia vai dar certo.
Padre Zezinho
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