Belíssimo conto de Bartolomeu Campos Queirós. Pura poesia!
Há muitos e muitos
anos, não muito longe daqui, vivia uma menina que sonhava em ter a Lua. E, por
mais que a mãe lhe dissesse que a Lua ficava longe e era fria, mais a menina
chorava e pedia.
Para distrair a
filha, a mãe tecia e bordava seus vestidos com luares de prata, pacientemente.
O pai enfiava em fios de seda pérolas brancas e lisas, cultivadas em conchas,
para o colar da menina. Mas nada trazia a felicidade para a filha, que sonhava,
dia e noite, noite e dia, em ter a Lua, mesmo sendo longe e fria.
Muitas vezes,
buscando consolar a menina, a mãe dizia: "Filha minha, o caminho da Lua é
muito dentro da noite. Em seu escuro, além de estrelas e constelações, grandes
dragões cortam as estradas com raios, trovões e labaredas. Nas nuvens da noite
dormem morcegos com asas longas, capazes de esconder outros vampiros e demônios."
Mas nada desviava o desejo da menina de morar na Lua, mesmo sendo longe e fria.
Uma tarde o pai não
voltou do trabalho. Perdeu-se nas sombras da floresta colhendo os frutos mais
saborosos, fabricados pela ternura das estações, para presentear à filha. A noite
já andava alta, e a mãe, debruçada na janela, com os olhos fixos no caminho que
traria o esposo, caiu em um sono grande e mais profundo que o firmamento. E a
menina, sonhando com a Lua, aproveitou o descuido dos pais e tomou o caminho de
São Tiago, buscando a Lua, longe e fria. A estrada era feita de neblina e
poeira de estrela, brilhante como o vidro. Mas entre uma estrela e outra havia
o nada. E o nada era imenso e vazio.
Ela assentou-se na
primeira estrela, debruçada sobre a noite. Muito triste, começou a chorar. E
seu intenso pranto choveu por sobre a Terra. E eram tantas as lágrimas que um
oceano, salgado e misterioso, se formou.
A mãe da menina,
com medo de se afogar, pediu ajuda aos céus e transformou-se em espírito das
águas. O pai, sem a esposa e a filha, cheio de amor, salvou-se em um pequeno
barco e passa as noites e noites navegando nos mares, procurando a mulher e a
menina querida.
Naquela noite, os
soluços da menina chamaram a atenção de um cavaleiro que galopava pelas
estradas de São Tiago. Escutando o pranto, cheio de pena, aproximou-se da
menina. Adivinhando o seu desejo de ter a Lua, mesmo sendo longe e fria,
oferece-lhe ajuda. A menina montou na garupa do cavalo branco. E, como o
cavaleiro era São Jorge, não foi difícil chegar à Lua.
E até hoje, se a
noite é clara, a menina desce com a Lua para o fundo dos mares, rios e oceanos,
visita o espírito das águas e ilumina o caminho para o pescador de estrelas.
Gostaria de saber o título do conto.
ResponderExcluir