Viajar com bagagem leve
Dizem que os viajantes mais experientes levam malas menores, mais leves, mais fáceis de serem transportadas. São mais prudentes do que aqueles que levam malas pesadas, que aumentam as dificuldades. É um problema colocá-las no bagageiro ou mesmo andar pela cidade até o local em que se vai hospedar.
A vida é, também, uma viagem. Igualmente, temos nossas bagagens que vão acumulando com o tempo.
Algumas pessoas acumulam tanto peso que vivem perturbadas. E, acostumadas com a perturbação, não conseguem se livrar. Não conseguem mais se lembrar do que é viver com leveza, com liberdade.
Há acúmulos materiais. Pessoas que não conseguem doar roupas, livros, CDs, móveis etc. E, como não param de comprar, suas casas ficam abarrotadas do que não usam, do que não necessitam. Em tempos de campanha do agasalho, faz muito bem experimentar a generosidade e ajudar quem precisa.
Há outras bagagens que pesam a nossa existência, com as quais, infelizmente, nos acostumamos e não conseguimos nos livrar. O peso do ódio, do espírito de vingança, da mesquinhez, da arrogância, da ausência de compaixão. O amor não correspondido. A traição. Os malfeitos que nos fizeram. Atos que, evidentemente, nos despertaram tristeza e dor. Mas há o tempo da dor, e o tempo de, dela, libertar-se. Há o tempo da tristeza e o da superação. E a viagem precisa seguir seu curso.
Acumular esses mesquinhos sentimentos é fazer com que nossa trajetória seja pesada, é correr o risco de não ter forças para prosseguir com dignidade, é cair com facilidade. Assim como acontece com as malas de viagem, as exageradas.
Acumular o que não se usa requer mais espaço e mais trabalho, além de gerar mais problemas. E é desnecessário. Acumular sentimentos menores é ainda pior. É fazer com que nossa vocação para a liberdade, para a leveza, seja comprometida com estranhamentos de ontem. Vivamos o hoje com os olhos para o amanhã. E com pouca bagagem. Ou melhor, com a bagagem essencial.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 27/6/2014
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