Como sofrer?

É diante desta pergunta que procuramos um novo caminho. Se não emos como mudar a vida, então precisamos descobrir um jeito de sermos transformados por ela. Se eu não mudar o fato de ter que sofrer , então posso encontrar um modo de como sofrer. é mais uma vez uma proposta de mudança de foco.

Muitos sofrimentos que nos atingem são otimizados por nossa maneira de lidar com eles. A matéria que nos nem sempre é tão grave. O problema é a forma de lidarmos com ela. O revestimento que damos aos nossos problemas torna-se maior que o próprio problema.

Muito facilmente fazemos tempestade em copo de água, porque nos falta sabedoria na lida com os acontecimentos que estimulam nossos limites. Mesmo que seja natural, o sofrimento ainda é infrentado como se fosse um inimigo.

É claro que não queremos sofrer. A resposta humana diante dos desafios da vida é sempre de proteção. O ser humano vive para proteger-se dos limites que tem, mas não podemos fugir desta verdade - eles são parte integrante de nossa condição e não podemos mudar isso.

Mas, diante de tudo o que não podemos mudar, há sempre o que podemos mudar há sempre o que podemos aprender e compreender. Talvez seja esse o movimento possível diante da dor. Encontrar nela alguma resposta, ainda que silenciosa, que nos sugira e proporcione um aprendizado.

A sabedoria nos ensina que diante de uma vida que sofre, as perguntas podem parecer inoportunas. Uma atitude vale muito mais. Apressamos -nos muito em fazer perguntas no momento da dor. Por isso nos aconteceu? Por que estamos passando por isso? Por que pessoas boas sofrem tanto?

O grande risco é que nossa multiplicidade de perguntas não permita o nascimento de sabedorias, a sabedoria costuma aparecer somente a partir da experiência de contemplação.

Temos aprendido, as duras penas, que o bom da vida não está em chegar ás respostas, mas sim em aprender a conviver com as perguntas. Nem sempre nos tornamos aliados desta forma de sabedoria.

Insistimos muito em querer respostas, e com isso perdemos a mística das boas perguntas. Há perguntas que podem nos alimentar de maneira positiva durante uma vida inteira.

Nem sempre as respostas possuem este poder, pois caem no esquecimento com muita facilidade. As perguntas não. Elas duram o tempo da busca. E há buscas que não cabem no tempo. Elas possuem o dom de nos alimentar durante toda a nossa história.

São perguntas que nos seguram na dinâmica da vida. Não são perguntas que se alimentam de respostas, mas perguntas que nos alimentam de esperanças. Elas se transformam em motivos, que podem sem sempre novos, porque um motivo vai alimentando outro.

Os sábios sabem disso. Ás vezes encontramos histórias de homens e mulheres refugiados em seus eremitérios, lugares reservados á solidão, distantes das exigências da vida contemporânea. Pessoas que abandonaram o mundo e sua fabricação de respostas rápidas, transitórias, pare se refugiarem com suas perguntas silenciosas.


Eles não querem respostas rápidas, produzidas em série. Eles querem as perguntas que transformam em motivos. Eles querem as perguntas artesanais, aquelas que são construidas aos poucos, na calma que nutre a sabedoria.

 Eles não temem ainda o que não sabem, mas descobrem neste lugar da vida uma beleza da contemplação. O não saber nãos é uma prisão, ao contrário, é uma forma de liberdade.

A diferença está na forma como olham para o que ainda não sabem. Ao invés de se alimentarem de desejos de responder, eles mergulham na pergunta que merece calma e nelas permanecem. Eles descobrem a mística
do questionamento e com isso se livram do sofrimento infértil que nasce da ansiedade de chegar á resposta. Descobrem o processo do não saber um jeito bonito de permanecerem.

Muitos sofrimentos nascem de nossa incapacidade de permanecermos na pergunta. O grande problema é quando a insistência da pergunta nos incapacita para descobrir a resposta. É neste momento que corremos o risco de mergulhar numa modalidade de sofrimento que é absolutamente infértil.

Pe Fábio de Melo

Livro: Quando o sofrimento bater á
sua porta

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