Quando mudam as estações

Há uma canção de Beto Guedes que fala da chegada do mês de setembro que traz, consigo, a primavera. Fala de perdão. Fala das canções, das vozes que as entoavam e dos seus sonhos. Há aqueles que se perderam no caminho. E choraram. Mas o "sol de primavera" anuncia novos tempos. É que, às vezes, permanecemos com os mesmos erros. "A lição sabemos de cor/Só nos resta aprender".

Com as estações, mudam algumas características de tempo e temperatura. Mas não é disso que trata a canção. É nela que nos inspiramos para sugerir que os comportamentos evoluam. Quanto desperdício em permanecer nos erros que sufocam. Há colecionadores de malfeitos. Os próprios e os alheios. E não há estação que resolva os problemas dos que estacionam. Dos que não progridem. Dos que não aproveitam "o sol de primavera" para derreter as friezas que os adoeceram. Ódios acumulados, ausência de perdão, estranhamentos por acidentes corriqueiros. Uma vida com esses dissabores perde o sabor. 
Essas lições nós sabemos, porque observamos quanto de dor a história registra de histórias que poderiam ter tido outros enlaces. Lamentamos o próximo que não se aproxima de quem ama. Entristecemo-nos por aqueles que, envoltos em agressividade, entristecem. Marcas que ficam se delas não cuidarmos.
Mas passam as estações. Passa a vida. E talvez mais rapidamente do que gostaríamos. O tempo dos desperdícios cobra seu preço. Na primavera, que chega na próxima semana, ou em qualquer estação, afeiçoemo-nos ao melhor da vida. Não percamos tempo. Abramos, como quer o compositor, "as janelas do nosso peito" e vivamos. Com o sol que nos aquece ou com a chuva que aguardamos tanto para nos alimentar do necessário e para limpar o que chegou a hora de esquecer.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 19/09/2014

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