"O mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o nosso mundo"


Filósofo, doutor em Educação, professor da PUC/SP, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, comentarista da Rádio CBN e da TV Cultura, Mário Sérgio Cortella coleciona títulos, já publicou inúmeros livros e ministra palestra sobre os mais variados temas. No Congresso Estadual da Apeprem, em Sorocaba, Cortella falou sobre ética durante 90 minutos. De maneira leve e bem humorada, fez os convidados refletirem sobre o tema proposto e falou com exclusividade para o jornal Cruzeiro do Sul. Confira:

- O que é ética?

Ética é escolha. É o conjunto de valores e princípios que aprendemos e adotamos. Ela impacta tudo o que está no nosso cotidiano. Absolutamente tudo. É a proteção da decência. É a tua e a minha capacidade de não descuidarmos daquilo que nos ajuda em relação ao nosso modo de sermos decentes. É decisão. Cada um de nós podemos ser angelicais ou demoníacos, qualquer um sabe como abençoar ou amaldiçoar uma situação ou alguém. A opção é de cada um.

- Qual a diferença entre o que é ético, legal e moral?

Legal é o que se refere à lei. Moral é a prática dos seus princípios éticos. A moral é individual, é a prática de cada um. Não é a mesma coisa que ética, que é de um grupo, uma comunidade - mas tudo está conectado.

- O indivíduo aprende a ser ético? Exitem pessoas que, por desvio de personalidade, não conseguem?

A ética passa pela educação - não obrigatoriamente pela escola - e pela formação de cada um. Toda pessoa deve receber esses valores, práticas, convencimentos e punições. Ninguém é antiético por causa da personalidade, isso não existe na vida humana. A menos que a pessoa seja um psicopata, aí é uma doença. Não existe ninguém sem ética, só quem não pode escolher, decidir e julgar por si mesmo, como uma criança pequena ou um idoso com Alzheimer. Nesse caso, a pessoa é aética, ou seja, incapaz.

- A atualidade contribui para a falta de ética?

A questão ética não fica mais difícil com os tempos modernos. Fica diferente do que ela foi. Esse individualismo cada vez mais vivido nos dias atuais pode nos levar à degradação e até à extinção.

- A impunidade influencia nas atitudes antiéticas?

Sim, porque cada vez que alguém colhe a notícia da impunidade, se sentirá invadido quando se sente praticante daquilo que é correto e vai repensar se vale a pena ser ético. Isso ameaça a ética.

- É preciso falar mais sobre ética?

O tempo todo. É preciso falar e praticar mais. Ética é exemplar, é aquilo que a gente mostra, não aquilo que a gente fala. O mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o nosso mundo.
Notícia publicada na edição de 12/04/15 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 004 do caderno C -

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