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Shakespeare, Juca, Lear

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Que Shakespeare é um genial leitor da alma humana, capaz de transformar em textos intrigas, dramas – vícios e virtudes do ser humano –, ninguém duvida. Que Juca de Oliveira é um mestre dos palcos e das telas, um ator que se reinventa a cada personagem para cumprir o compromisso com a essência de sua vida – ser operário da arte – é mais do que sabido. E Lear, o Rei? Texto desafiador. Parece que foi escrito ontem. Trata de temas que nos incomodam hoje. Uma luta em que os vícios da vaidade, da ingratidão, do egoísmo parecem suplantar a virtude da sabedoria. Mas talvez o intento de Shakespeare seja exatamente o oposto. Mostrar o quanto erramos quando "envelhecemos sem ficarmos sábios". O Rei comunica às três filhas que quer se aposentar. E que vai dividir o poderoso reino entre elas; para isso, quer ouvir as melhores declarações de reconhecimento de sua grandeza. Quer alimentar sua vaidade. Duas filhas fazem o jogo do pai e o engordam de elogios. A mais nova, a sincera, a...

A pipoca

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Rubem Alves A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento. As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me faz...

Rubem Alves

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Nome: Rubem Alves Nascimento: 15/09/1933 Natural: Boa Esperança - MG "Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos   fragmentos de futuro em que a alegria é servida como   sacramento, para que as crianças aprendam que o   mundo pode ser diferente. Que a escola,   ela mesma, seja um fragmento do   futuro..." Rubem Alves   nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, naquele tempo chamada de Dores da Boa Esperança. A cidade é conhecida pela serra imortalizada por Lamartine Babo e Francisco Alves na música "Serra da Boa Esperança". A família mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1945, onde, apesar de matriculado em bom colégio, sofria com a chacota de seus colegas que não perdoavam seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião, pois vivia solitário, sem amigos. Teve aulas de piano, mas não teve o mesmo desempenho de seu conterrâneo, Nelson Freire. Foi bem sucedido no estudo de teologia e iniciou su...

ARIANO SUASSUNA (Biografia)

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Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87 anos. Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan. Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral. A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. ...

Virando a página

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Muito já se falou sobre a derrota do Brasil na Copa, inclusive sobre o sofrimento das crianças e o aprendizado diante da dor. Foram eleitos os culpados. Falou-se das questões emocionais, do "apagão" diante da responsabilidade. Das improvisações. Da falta de preparo. O próprio técnico, Felipão, disse que quem aceita desafio corre riscos. Era ele um ídolo por ter sido o técnico do penta. E agora? É incrível como alguém deixa de ser ídolo para ser vilão de uma hora para outra. E vice-versa. O goleiro Júlio Cesar, tão criticado, virou herói no jogo contra o Chile. O país parou para ver seu time jogar. Os jogadores tinham a responsabilidade de vestir a camisa com as estrelas de pentacampeões do mundo. E perdemos. E sofremos. Mas é preciso virar a página. No dia do jogo, virando as páginas de um livro, deparei-me com uma história escrita pelo afegão Atiq Rahimi: "Terra e cinzas". Um conto comovente sobre a guerra. Quase um recital em defesa da paz.   A história se...

Nossos defeitos

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Diante de uma vitrine atrativa, um menino pergunta o preço dos filhotes á venda. -Entre  30 e 50 dólares, respondeu o dono da loja. O menino puxou uns trocados do bolso e disse: -Eu só tenho tenho 2,37 dólares, mas eu posso ver os filhotes? O dono da loja sorriu e chamou Lady, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pelo. Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, mesmo mancando de forma visível. Imediatamente o menino apontou aquele cachorrinho e perguntou: -O  que é que há com ele? O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril, sempre mancaria e andaria devagar. O menino se animou e disse: - Esse cachorrinho que eu quero comprar! O dono da loja respondeu: - Não, você não vai querer comprar esse. Se você realmente quiser ficar com ele, eu lhe dou de presente. O menino ficou transtornado e, olhando bem na cara do dono da loja, com seu dedo apontando, disse: -Eu não quero que você o dê pa...

Viajar com bagagem leve

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Dizem que os viajantes mais experientes levam malas menores, mais leves, mais fáceis de serem transportadas. São mais prudentes do que aqueles que levam malas pesadas, que aumentam as dificuldades. É um problema colocá-las no bagageiro ou mesmo andar pela cidade até o local em que se vai hospedar.  A vida é, também, uma viagem. Igualmente, temos nossas bagagens que vão acumulando com o tempo. Algumas pessoas acumulam tanto peso que vivem perturbadas. E, acostumadas com a perturbação, não conseguem se livrar. Não conseguem mais se lembrar do que é viver com leveza, com liberdade. Há acúmulos materiais. Pessoas que não conseguem doar roupas, livros, CDs, móveis etc. E, como não param de comprar, suas casas ficam abarrotadas do que não usam, do que não necessitam. Em tempos de campanha do agasalho, faz muito bem experimentar a generosidade e ajudar quem precisa. Há outras bagagens que pesam a nossa existência, com as quais, infelizmente, nos acostumamos e não conseguimos ...