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Amar é um ato de coragem

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Por que alguém quer ser pai ou mãe? Por que alguém resolve constituir uma família? Filhos dão trabalho. E são para a vida toda. Cada fase, um desafio. No início, o choro que desperta. Depois, os riscos de um ambiente novo. Depois, a rebeldia adolescente. Depois, os encantos e desatinos da juventude. E o “depois” nunca se acaba. É preciso coragem. Amar é um ato de coragem. Filhos são frutos de um amor que alimenta a vida. Tudo muda quando chegam. Os sentimentos deslocam-se. Mãe. Pai. O amor gerou vida e a vida ganhou novo significado. Noticiou-se que um casal australiano contratou uma "barriga de aluguel" de uma tailandesa. Dois filhos foram gerados. Quando souberam que um dos gêmeos tinha síndrome de Down, resolveram ficar apenas com o "perfeito". Triste história. Filhos não são perfeitos. Nem pais. Tive um irmão com Down. Sua autenticidade, leveza, o cantar constante, o sorriso alimentaram nossa família de um amor puro. Junior aqueceu nossas vidas. A mãe tail...

Fernando Pessoa: Prece

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Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) - eis o teu corpo. Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome. Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Fazer com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. [...] Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar. Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em ...

E a guerra continua

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É inexplicável o que está acontecendo na faixa da Gaza. Inexplicável! Toda justificativa dada só mostra uma coisa: o fracasso das relações humanas. As cenas das crianças mortas são horrendas. Com elas, morre o futuro, a esperança, a possibilidade de um novo tempo. Tempo difícil este. As crianças que não morrem são ensinadas a odiar. Odeiam quem não conhecem. Odeiam por fazerem parte de outro povo, de outra religião, de uma gente que mata a sua gente. A faixa de Gaza é uma estreita faixa de terra localizada no Oriente Médio, fronteira com Egito e Israel. Grande parte de sua população é formada por palestinos que ali se refugiaram após a guerra árabe-israelense de 1948. Quantas tentativas de paz, quantos tratados assinados, quanta oração – aliás, os que matam se dizem religiosos. E colocam Deus para justificar essas atrocidades. Religião é religação, o que fazem é um desligamento. Por trás do discurso religioso, há outros interesses. Interesses econômicos são legítimos, desde que...

Shakespeare, Juca, Lear

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Que Shakespeare é um genial leitor da alma humana, capaz de transformar em textos intrigas, dramas – vícios e virtudes do ser humano –, ninguém duvida. Que Juca de Oliveira é um mestre dos palcos e das telas, um ator que se reinventa a cada personagem para cumprir o compromisso com a essência de sua vida – ser operário da arte – é mais do que sabido. E Lear, o Rei? Texto desafiador. Parece que foi escrito ontem. Trata de temas que nos incomodam hoje. Uma luta em que os vícios da vaidade, da ingratidão, do egoísmo parecem suplantar a virtude da sabedoria. Mas talvez o intento de Shakespeare seja exatamente o oposto. Mostrar o quanto erramos quando "envelhecemos sem ficarmos sábios". O Rei comunica às três filhas que quer se aposentar. E que vai dividir o poderoso reino entre elas; para isso, quer ouvir as melhores declarações de reconhecimento de sua grandeza. Quer alimentar sua vaidade. Duas filhas fazem o jogo do pai e o engordam de elogios. A mais nova, a sincera, a...

A pipoca

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Rubem Alves A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento. As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me faz...

Rubem Alves

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Nome: Rubem Alves Nascimento: 15/09/1933 Natural: Boa Esperança - MG "Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos   fragmentos de futuro em que a alegria é servida como   sacramento, para que as crianças aprendam que o   mundo pode ser diferente. Que a escola,   ela mesma, seja um fragmento do   futuro..." Rubem Alves   nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, naquele tempo chamada de Dores da Boa Esperança. A cidade é conhecida pela serra imortalizada por Lamartine Babo e Francisco Alves na música "Serra da Boa Esperança". A família mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1945, onde, apesar de matriculado em bom colégio, sofria com a chacota de seus colegas que não perdoavam seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião, pois vivia solitário, sem amigos. Teve aulas de piano, mas não teve o mesmo desempenho de seu conterrâneo, Nelson Freire. Foi bem sucedido no estudo de teologia e iniciou su...

ARIANO SUASSUNA (Biografia)

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Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87 anos. Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan. Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral. A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. ...