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A lenda do Colar

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Li certa vez uma lenda, que não sei quem escreveu, mas que me fez muito bem. Dizia que um rei tinha dado à sua filha, a princesa, um belo colar de diamantes. Mas o colar foi roubado e as pessoas do reino procuraram por toda a parte sem conseguir encontrá-lo. Alguém havia dito ao rei que seria impossível encontrá-lo, porque um pássaro o teria levado fascinado por seu brilho. O rei, desesperado, então ofereceu uma grande recompensa para quem o encontrasse. Um dia, um rapaz caminhava de volta para casa ao longo de um lago sujo e mal cheiroso. Enquanto andava, o rapaz viu algo brilhar no lago e quando olhou viu o colar de diamantes. Tentou pegá-lo, pôs sua mão no lago imundo e agarrou o colar, mas não conseguiu segurá-lo, o perdeu. No entanto, o colar continuava lá no mesmo lugar, imóvel. Então, desta vez ele entrou no lago, mesmo sujo, e afundou seu braço inteiro para pegar o colar; mas não conseguiu de novo, o colar escapava-lhe. Saiu, sentou e pensou de ir embora, sentindo-se depr...

[OS PÁSSAROS DE MOEMA]

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Moema, para quem nunca ouviu falar, é um bairro paulistano que todo carioca adora. Dá para ir a pé para qualquer lugar. Não precisa de carro para comprar o pão pela manhã. Não precisa de carro para aproveitar o almoço pela tarde. Não precisa de carro para beber o chope pela noite. Para quem gosta de caminhar Moema é quase um poema. Mas só tem um problema: não tem cinema no Shopping Ibirapuera. E quem precisa pagar para ficar estático em uma sala refrigerada para admirar os movimentos de uma tela gigante quando se tem um céu imensurável para contemplar gratuitamente todos os dias? O céu de Moema é diferente. Não por ser mais azul do que qualquer outro. Mas é um céu que narra histórias diferentes a cada segundo. As nuvens são artistas incríveis: sempre nos surpreendem. Ontem, vi um dragão engolir meus medos. Hoje, talvez nasça uma flor no peito daquele menino que escreve amargurado. As pétalas serão palavras bonitas, eu sei. Amanhã, quem sabe, elas não desenhem a esperança. O céu d...

Acreditar e Agir

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Um viajante ia caminhando em solo distante, as margens de um grande lago de águas cristalinas. Seu destino era a outra margem. Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um  homem coberto de idade, em um barqueiro, quebrou o silêncio oferecendo-se para transporta-lo. O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido por dois remos de madeira de carvalho. Logo seus olhos perceberam o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os  pés empoeirados dentro do barco, o viajante pode observar que se tratava de duas palavras, num deles estava talhada a palavra ACREDITAR e no outro AGIR. Não podendo conter a curiosidade, o viajante perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro respondeu pegando o remo chamado ACREDITAR e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo AGIR e remou com todo vigor. Novamente o barco gorou e...

Ode a Mário de Andrade

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“São glórias desta cidade Ver a arte contando história...” (Mário de Andrade) Sem a beleza da senhora Palavra, as tardes de quinta-feira não seriam tão generosas comigo. Há uma década, tenho a honra de desfrutar, na Academia Paulista de Letras, espetáculos grandiosos de sabedoria. No tradicional encontro dos Acadêmicos, a prosa faz reverências às nossas origens com reflexões que resgatam o sentido primeiro das palavras, as vozes poetizam as verdades, as memórias são desveladas, ora com dor ora com amor, e a sabedoria faz-se dona dos momentos de leveza. Das horas de descuido, como diria Guimarães Rosa. Enlevo-me. Admiro. Aprendo. Ensino. A Academia vive, e seus moradores são artífices engenhosos e brilhantes de sua majestade, a Palavra. Representantes das Letras. Gigantes da generosidade.  Neste enredo, como uma grande família, em nossa casa do Largo do Arouche, respiramos diversidade e convergência. Em cada cadeira que ocupamos, resgata-se uma história eternizad...

Ele disse bom-dia

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Frequento, há algum tempo, uma academia de ginástica  do meu bairro. As pessoas que lá trabalham são extremamente competentes e simpáticas. Nesta semana, quando cheguei, bem cedo, os funcionários da portaria diziam: “Ele disse bom-dia". E repetiam quase que atônitos: "Ele disse bom-dia". Entrei na sala de musculação, e os comentários de alguns professores iam na mesma direção: "Que estranho. Ele disse bom-dia". Gosto da prosa, mas não dedico muito tempo a investigar vidas alheias; entretanto, curioso, quis saber. Contaram-me que um homem, que nunca cumprimentava ninguém, entrou na academia dizendo bom-dia. Apenas uma vez. Mas pegou todos de surpresa. Uma funcionária havia dito que, no início, todos diziam bom-dia a ele. Depois, acharam deselegante incomodá-lo, já que ele não respondia. E, naquele dia, ele, enfim, dissera bom-dia. Parece estranho um simples dizer causar tanto movimento nos movimentos cotidianos. A ausência de polidez é um desperdício na ar...

A primavera (2° parte)

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O mais velho era advogado renomado. O mais novo ocupava o seu tempo como atendente da Tabacaria Domênica. Sempre que podia, eu arriscava atravessar a Rua Domingos de Freitas para observar as miudezas da vitrine. Era ali que nossos olhos se encorajavam para o pecado do encontro. Não havia dissimulação. A vitrine nos nos congregava. Era como se ele tivesse o poder de nos proteger da culpa. Não havia palavra. Dizíamos tudo com os olhos. Eu pedia perdão por não ter coragem de enfrentar meu pai. Ele perdoava. Ele pedia que eu compreendesse a sua incapacidade de trair seu irmão. Eu compreendia. Eu jurava amá-lo até o fim dos meus dias. Ele confirmava o juramento.   Numa manhã de sexta-feira, dia em que a alma parece querer mais que o comum de todos os dias, Alberto surpreendeu-me com um gesto quase cheio de voz. Vendo que eu atravessava a rua para ficar diante da vitrine da tabacaria, correu, estendeu  os braços para dentro da vitrine e retirou um retalho de tecido, deixado á amo...

A Importância de Lutar Pela Nossa Relação.

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Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco...