Frases: Se eu pudesse viver minha vida novamente...
Para alimentar, a alma com poesia, reflexão e saudade. Assim
é o livro: Se eu pudesse Viver Minha
Vida Novamente... Essa frase em algum
momento ou em vários momentos de nova vida já dissemos. Ora com gosto de
saudade, ora com gosto de arrependimento. O desejo de voltar no tempo sempre
vai existir. Rubem Alves nos leva a uma
fascinante viagem as suas memórias. suas
reflexões passeia por citações e poemas dos escritores (as) , Como Adélia
Prado, Cecília Meireles, Drummond,
Fernando Pessoa e tantos outros. O que torna esta leitura que por si só
já é fascinante, em um oásis da poesia. Leitura rápida, com grande valor
reflexivo. Vale muito, muito apena ler. A sensação é de que estamos tendo uma
prosa muito edificante, sobre a vida com o escritor . O livro é dividido em
duas partes: Parte 1 Se eu pudesse...Sobre a nostalgia, sonhos, perdas e
ganhos. Parte 2 ...viver minha vida
novamente...Sobre os pequenos detalhes que fazem toda a diferença.
“se eu pudesse viver minha vida novamente”, eu
quereria vivê-la do jeito mesmo como a vivi, com seus
desenganos, fracassos e equívocos.
Doidice? Imaginem que eu estivesse infeliz. Eu teria então
todas as razões para voltar
atrás e tentar consertar os lugares onde errei. Mas eu não
estou infeliz. Vivo um
crepúsculo bonito...
Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri.
As pontes que construía para chegar aonde eu
queria ruíam uma após a outra. Eu era então obrigado a
procurar caminhos não
pensados. E aconteceu, por vezes, que nem mesmo segui, por
vontade própria, os
caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me
empurrou. Fui literalmente
obrigado a fazer o que não queria.
A experiência literária é
um ritual antropofágico. Antropofagia não é gastronomia. É
magia. Come-se o corpo de
um morto para se apropriar de suas virtudes. Não é esse o
objetivo da eucaristia, ritual
antropofágico supremo? Come-se e bebe-se a carne e o sangue
de Cristo para se ficar
semelhante a ele. Eu mesmo sou o que sou pelos escritores
que devorei... E, se escrevo, é
na esperança de ser devorado pelos meus leitores.
No paraíso não havia templos. Deus andava pelo jardim,
extasiado, dizendo: “Como é belo! Como é belo!” A beleza é a
face visível de Deus.
Menino, o mundo me era divino e sem deuses. Talvez seja essa
a razão por que Jesus
disse que era preciso que nos tornássemos crianças de novo,
para ver o paraíso
espalhado pela terra.
Inconscientemente nunca acreditei que Deus pudesse lançar
uma
alma ao inferno por toda a eternidade. É crueldade demais!
Eu não admitiria que um
homem fizesse isso. Como poderia admitir que Deus o fizesse?
E também nunca fui
atraído pelas propaladas delícias do céu. Para dizer a
verdade, não conheço nem uma
pessoa que esteja ansiosa por deixar as pequenas alegrias
desta vida para gozar
eternamente a felicidade celestial perfeita. As pessoas
religiosas que conheço cuidam bem
da saúde, caminham, fazem hidroginástica, controlam o
colesterol, a pressão, a
glicemia... Elas querem continuar por aqui. Não querem
partir.
Esta alegria de viver me faz encontrar Deus a passear pelo
jardim ao vento fresco da
tarde.
A solidão e o
sofrimento me fizeram sensível à voz dos poetas.
O feiticeiro é aquele que diz uma palavra e, pelo puro
poder dessa palavra, sem o auxílio das mãos, o dito
acontece. Deus é o feiticeiro-mor:
falou e o universo foi criado. Os poetas são os aprendizes
de feiticeiro. O desejo que
move os poetas não é ensinar, esclarecer, interpretar. Essas
são coisas da razão. O seu
desejo é mágico: fazer soar de novo a melodia esquecida. Mas
isso só acontece pelo
poder do sangue do coração humano.
Pois é, ensinaram-lhe que você é uma
ferramenta que merece viver enquanto puder fazer. E agora que o seu fazer não faz mais
diferença, você se coloca ao lado dos objetos sem uso. À espera de que a morte venha
colocá-lo no devido lugar, pois nada mais há que esperar. Você está sem esperança.
Terminado o tempo do trabalho, chegara o tempo do
desfrute. E o Criador se transformou em amante: entregou-se ao gozo de tudo o que
fizera. Com as mãos pendidas (pois tudo o que devia ser feito já havia sido feito), seus
olhos se abriram mais. Olhou para tudo e viu que era lindo. Pôs-se a passear pelo
jardim, gozando as delícias do vento fresco da tarde. E, embora os poemas nada digam a
respeito, imagino que o Criador tenha também se deleitado com o gosto bom dos frutos
e com o perfume das flores – pois que razões teria ele para criar coisas tão boas se não
sentisse nelas prazer?
E você me pergunta, então, onde está a escola em que se ensina essa sabedoria
esquecida... Não, não há escolas para isso. Todas as escolas só nos ensinam a ser
ferramentas. Será preciso que você procure mestres que ainda não foram enfeitiçados por
elas. Você deve procurar as crianças. Somente elas têm o poder para quebrar o feitiço que
o está matando ainda em vida.
As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda
sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é
brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!
Ah! A vida é bela! O mundo é belo! É por isso que toda despedida é triste. E é isto
que eu sinto: que a morte é uma saudade sem remédio.
...Existe sempre a tentação de prender o Pássaro Encantado, o Grande Mistério, em gaiolas de palavras. O poeta é aquele que ama o Pássaro em voo. O poeta voa com ele e vê as terras desconhecidas a que
o seu voo leva. Por isso não há nada mais terrível para um poeta que ver um Pássaro
engaiolado... Daí que ele se dedique, hereticamente, à tarefa de abrir as portas das
gaiolas, para que o Pássaro voe... E é para isso que escrevo: pela alegria de ver o Pássaro
em voo.
O ato de ver é uma oração. O místico não se encontra no invisível. O místico se encontra no visível. O visível é o
espelho onde Deus aparece refletido sob a forma de beleza. Deus é um esteta. Quem experimenta a beleza está em comunhão com o sagrado.
Escreveria para as pessoas comuns. E que outra maneira
existe de
se comunicar com as pessoas comuns senão simplesmente dizer
as palavras que o amor escolhe?
Existe sempre a tentação É por isso que os olhos dos velhos
vão se Os silêncios são sempre embaraçosos porque nunca se sabe o que o outro
está pensando .
Eu nunca consegui chegar a lugar algum usando remos.
Por Bia Oliveira
Sobre o Autor:
Rubem Alves
Rubem Alves é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.
Durante sua infância, enfrentou os problemas comuns ocasionados pelas frequentes mudanças de estados e de escolas. Tais mudanças influenciaram sua atitude de introspecção que o levou à companhia dos livros e ao apoio da religião, base de sua educação.
Presbiteriano, tornou-se pastor. Teve três filhos, e entrou numa crise de fé decorrente de um problema de saúde na família, tendo assim de abandonar o pastorado. Apóstata do cristianismo, tornou-se crítico da religião organizada. De volta ao mundo secular, tornou-se escritor e acadêmico.
Fonte: Skoob
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