Postagens

Resenha: A menina que roubava livros

Imagem
A Menina que Roubava Livros Markus Zusak ISBN-13:  9788598078373 ISBN-10:  8598078379 Ano: 2014 / Páginas: 478 Idioma: português  Editora:  Intrínseca  A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, porém surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente - a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los em troca de dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. Essa obra, que ela ainda não sabe ler, é seu único vínculo com a família. Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a cumplicidade do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que a ens...

O último voo do poeta

Imagem
Nosso poeta Manoel de Barros voou. Estamos comovidos, em silêncio, buscando ouvir o último ruflar de suas asas. Nosso poeta desejou tanto usar “palavras de ave para escrever”; mas cometeu muito mais do que isso: suas palavras se fizeram asas para além do voo. E permanecem no ar, ora soltas, ora em frases, desafiando-nos a capturá-las. O poeta, que nasceu menino, partiu menino. Fez de sua maturidade a sua segunda infância; uma vida em poesia. Fez de sua arte um brinquedo. Despojado de regras e convenções, descontruiu a linguagem, poetizou a natureza e o mundo, vestiu de singeleza as palavras. Fez da vida sua arte de simplicidade. Dizia que sua poesia era difícil de ser compreendida, embora fosse feita com palavras simples. Muitos não entendiam essa declaração. Mas é preciso fazer-se criança para compreender. Admirar-se. Encantar-se. Desinventar-se.   Manoel de Barros nasceu às margens de um rio, cresceu menino do mato e amigo do silêncio. A palavra sempre foi seu jogo predile...

O filho da mãe

Imagem
A mãe é cozinheira em casa de família. Não pensa em aposentadoria, embora esteja perto dos 70 anos. Gosta do que faz. O filho único é advogado. Estudou em uma universidade particular paga pela mãe. Formado há alguns anos, tem clientes importantes. Veste-se bem. Mora em um bom apartamento. A mãe preferiu ficar no seu canto. Um canto distante do trabalho e da vida do filho. Não reclama. Comenta que o transporte público está melhorando. No percurso, tem tempo para pensar, para rezar, para agradecer a Deus por sua vida. Ficou viúva muito nova. Com um problema sério na coluna, quase morreu no único parto. Resistiu e resiste às dores que surgem. Sem lamentos, sem queixumes. O filho não a visita muito. Diz que falta assunto, que vivem em mundos diferentes. Ele é casado, e a esposa acha estranho ter uma sogra cozinheira. E não acha bom que os filhos convivam com a avó. “Muito rústica”, na opinião da nora. Conheci essa cozinheira. Sua patroa é um encanto e foi ela quem me contou a hi...

Belos cabelos brancos

Imagem
Conheci duas senhoras numa missa. Logo que cheguei, uma delas me abriu um sorriso, dando-me boas vindas. Disse que eu era lindo. Eu retribuí. Ela disse que já era velha. Respondi que a beleza não se esvai com o tempo. Ela concordou, sorrindo, e me informou que ia completar 93 anos. A amiga já fizera 90. Contou-me que toma meia taça de vinho tinto toda noite por sugestão médica. A de 90 disse que faz o mesmo. A de 93 reagiu, dizendo que ela tomava a taça inteira e que ocultava isso do médico. A amiga riu e explicou que nem tudo deve ser dito. Uma pessoa, no banco de trás, tossiu. A senhora de 93 ofereceu uma pastilha. Explicou-me que sempre carrega pastilhas para aliviar sua tosse e a dos outros. A missa começou. A 1a leitura era do Livro da Sabedoria sobre a honra da velhice: "mas os cabelos brancos são uma vida sensata. A de 90 olhou para a de 93 e disse, baixinho: "Viu? Estão falando da gente!". E brincou: “E eles nem sabem que disfarçamos a brancura dos cabelo...

Nita e Paulo Freire, um livro sobre o amor

Imagem
Nita Freire nos presenteou com os detalhes cotidianos do apaixonado Paulo Freire. Conta que estavam os dois vivendo o luto da despedida. Ela havia enviuvado, depois de um casamento de quase 30 anos. Ele havia perdido Elza, de quem fora cúmplice de sonhos e afagos durante 42 anos. Encontraram-se nos desencontros. Encantaram-se. Os relatos trazem a adolescência da paixão nos anos de maturidade. Não há idade para amar. Nita revigora uma frase corriqueira na vida de Paulo Freire: "eu optei por viver". Bilhetes em cardápios de avião, em guardanapos. Poemas lidos com vagar nos telefonemas apaixonados, quando estavam distantes. Paulo, o patrono da educação brasileira, era um homem romântico. Com as mulheres que amou e com as causas que abraçou. No pouco convívio que tive com Paulo Freire, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o que mais me chamava atenção era o seu "gostar de viver". Não pode ser educador quem não gosta de viver. Gostar de viver é ...

31 de outubro é dia de celebrar o nascimento do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade

Imagem
Na data em que se celebra o nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores nomes da poesia e prosa brasileira, vale narrar as peripécias de sua infância mineira, o tempo compartilhado entre o funcionalismo público e o vasto trabalho de traduções literárias e a trajetória do poeta consagrado na liberdade de seus versos, contos e crônicas. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. Mineiro de Itabira, nascido em 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade demonstrou desde cedo seu senso irônico e cético, sendo expulso do colégio por "insubordinação mental". A carreira de escritor teve início no jornal Diário de Minas, local em que viu nascer o movimento modernista mineiro. Mais tarde, os jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil também contariam com a pena de Drummond. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem to...

Somos todos brasileiros

Imagem
Nada justifica o preconceito. Nada. Nem alegrias nem decepções. Nem celebrações de vitórias nem lamentos de derrotas. O preconceito é feio. É mesquinho. É a prova de que ainda temos muito a aprender na arte de conviver com as diferenças. Opiniões diferentes, olhares diferentes para temas diferentes, pessoas diferentes. Vez ou outra, por alguma razão, surgem pessoas que disparatam os seguintes dizeres: “eu não sou preconceituoso, mas...”. A palavra que introduz a triste mensagem que será dita já é uma amostra de que o que vem não foi fruto de reflexão, mas de impulsos gerados por emoções estranhas. Ganhar ou perder uma eleição. Ganhar ou perder o campeonato de futebol. Ganhar ou perder na sugestão, na opinião, faz parte. Mas é preciso que o vencedor tenha humildade; e o perdedor, também. Até porque nada é definitivo. E o conceito de vencedor e perdedor é bastante relativo. Nessas eleições, vozes se pronunciaram mostrando o quão feio é o preconceito. Somos todos filhos de um mesmo ...